Os acontecimentos que levaram à renúncia o presidente do S. C. Corinthians Paulista chamam a atenção e, se bem encaminhados, podem seguramente conduzir a uma situação mais justa o futebol brasileiro. Independente dos seus resultados diretos, os fatos corintianos devem gerar questionamentos mais firmes e profundos das autoridades e órgãos de controle sobre as agremiações esportivas, delas exigindo-se integral e absoluto cumprimento das leis. Isso afastará a desconfiança dos contratos de gaveta, dos pagamentos no exterior e outras desonestidades que se denuncia existirem no meio. Trazido da Inglaterra no final do século 19, por Charles Miller, o futebol tornou-se paixão dos brasileiros através do talento de nossos jogadores, especialmente os precursores e os ídolos dos tempos de Leônidas da Silva, o inesquecível “Diamante Negro”, de Domingos da Guia, Garrincha, Pelé (que se fez rei da modalidade) e de muitos outros astros cujas jogadas geniais mexeram com o coração do torcedor. Detentor de credibilidade e popularidade, o esporte passou a ocupar extensos espaços da mídia – jornal, rádio, televisão e internet -, gerando consideráveis investimentos publicitários, pois a forte audiência faz o sucesso do produto com ele anunciado. Essa estrutura não pode ser maculada ou perder sua credibilidade por conta de atos impensados de dirigentes ou membros de clubes e federações. Os responsáveis pelo futebol brasileiro, não podem se esquecer que somos os maiores campeões do mundo e que esse esporte bate fundo na alma do povo, além de oferecer empregos diretos e indiretos e movimentar a economia. Como coisa “quase religiosa”, não pode se prestar à sonegação fiscal, produção de vícios nos resultados das loterias, lavagem de dinheiro criminoso ou a qualquer outra safadeza. Vivemos a era do computador, que cruza informações e detecta facilmente fraudes fiscais e atividades ilícitas praticadas por pessoas físicas e jurídicas. Não será difícil o sistema também vigiar os clubes e órgãos ligados ao esporte para, sem qualquer pré-julgamento, conhecer o que fazem de certo ou errado e eliminar as possíveis desonestidades. Essa simples verificação, que não depende de novas leis, poderia representar o saneamento do setor. Aumentaria a alegria do envolvente brilho e magia do nosso futebol e ofereceria necessário atestado de honorabilidade àqueles que, depois de fiscalizados, continuassem em seus postos. Os atropelos do Corinthians não devem e não podem cair no vazio. Espera-se que seus dirigentes, em nome da seriedade do futebol brasileiro, sejam capazes de desfazer todas as dúvidas perante o Ministério Público, a Justiça e ao próprio associado, para a paz poder voltar a reinar no tradicional clube paulista. E que, do episódio, surjam procedimentos padrões que possam manter o futebol a salvo de predadores e criminosos, venham de onde vierem. Não foram poucos os momentos em que o povo brasileiro viveu decepções. Aguardemos que isso não se dê no futebol. Que o susto de hoje sirva para alavancar uma oportuna e correta mudança de procedimentos e, no final, o grande beneficiado seja o torcedor. E que, num futuro não muito distante, todos os dirigentes possam ser vistos como figuras acima de qualquer suspeita e os brasileiros continuem a cultivar, sem qualquer receio, o amor ao time de sua preferência. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e presidente da APOMI (Associação dos Policiais Militares do Estado de São Paulo).
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