Laura Furtado, nutricionista da Escola Viva, fala sobre o que podemos fazer para ajudar as crianças a adquirir bons hábitos de alimentação. Para ela, a escola pode desempenhar um papel importante, pois o convívio social e as normas comuns favorecem a experimentação dos alimentos. “Se eu vejo um amigo comento cenoura crua, por exemplo, vou querer experimentar também”, afirma a nutricionista. Leia entrevista completa a seguir: Como podemos incentivar as crianças a comerem comidas mais saudáveis? Laura Furtado: Em primeiro lugar, é importante que as crianças tenham contato com diferentes tipos de alimentos em seu cotidiano. Aqui na escola, temos a preocupação de, em nosso lanche, não incluir alimentos com baixo valor nutricional ou com grande quantidade de gordura e açúcar, como refrigerantes, biscoitos recheados e frituras. Oferecemos frutas e sucos variados, procurando incentivar a experimentação destes alimentos. Em casa, é importante que as crianças tenham acesso a uma alimentação saudável, comendo frutas de vários tipos, verduras e legumes. É importante preservar o sabor natural dos alimentos, evitando misturas ou temperos acentuados. Assim, as crianças poderão reconhecê-los e, aos poucos, apreciar os diferentes sabores. O que fazer quando a criança não quer comer alimentos saudáveis? LF: Verduras e legumes costumam ser rejeitados pelas crianças. Uma maneira de favorecer o consumo deste tipo de alimento é utilizá-los em outras preparações, como tortas, suflês, sucos e biscoitos. Também é sempre interessante cuidar da apresentação destes pratos, uma vez que “não se come apenas com a boca, mas também com os olhos”. Quem exerce maior influência na alimentação das crianças? Os pais, a escola, os amigos ou a televisão? LF: A televisão exerce uma forte influência na alimentação das crianças. A mídia utiliza apelos muito fortes para o consumo de guloseimas, refrigerantes, salgadinhos e outros produtos industrializados. No entanto, cabe aos pais e à escola oferecer outras opções, estabelecendo uma dieta variada, na qual todos os nutrientes estejam presentes. Apesar de não existirem alimentos proibidos, é preciso limitar o consumo daqueles com baixo valor nutricional. Como educar nossas crianças para um futuro desconhecido, com tendências a escassez de recursos? LF: Uma boa alternativa para esta questão é a utilização integral dos alimentos na hora de prepará-los. Do abacaxi, por exemplo, pode-se utilizar a casca para fazer o suco, e a polpa para fazer bolos e tortas. O bolo feito de casca de banana também fica muito gostoso. Nesses casos, além de enriquecer a alimentação das crianças com fibras, vitaminas e minerais presentes nas cascas, também se evita o desperdício. Você sugere que as crianças participem das atividades culinárias em casa? LF: O contato e a experimentação dos alimentos é sempre uma oportunidade rica, que proporciona uma vivência prazerosa e favorece o reconhecimento dos alimentos e de seus diferentes sabores. Qual o principal vilão na alimentação das crianças? E quais estragos mais visíveis? LF: O principal vilão na alimentação infantil é o alto consumo de açúcar e de gorduras saturadas. Podemos observar a elevação no índice de obesidade infantil e prejuízos associados a ela, como diabetes e aumento na taxa de colesterol. Como é a o lanche na Escola Viva? LF: Na Escola Viva, as crianças não trazem lanche de casa. Aqui temos um cardápio semanal que é elaborado pela nutricionista. Este cardápio procura contemplar uma alimentação variada e balanceada, contendo sempre um suco de fruta natural, uma fruta e uma fonte de carboidrato (pães, biscoitos, bolos). A escola também se preocupa com a formação de hábitos alimentares saudáveis, procurando, sempre que possível, introduzir alimentos mais nutritivos como pão integral, de espinafre, de beterraba ou de cenoura. Também oferecemos cenoura palito, pepino e frutas da época que são freqüentemente desconhecidas das crianças, como carambola, jabuticaba e nêspera. As professoras estão sempre presentes neste momento de lanche e têm um papel importante ao incentivar a experimentação. A apresentação do lanche também é valorizada, contribuindo para que este momento seja agradável e prazeroso.
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