O medo é uma emoção primária do ser humano (inata), necessária para proteção e perpetuação da espécie. Está incrustada em nosso DNA e faz parte do nosso existir. Sua abrangência vai desde a decisão de lutar ou fugir, até o acúmulo traiçoeiro que deságua no estresse e na ansiedade, levando ao esgotamento físico e mental. Para os nossos antepassados primitivos as respostas físicas e mentais ao medo eram tão essenciais para a sobrevivência, que elas permanecem de forma intensa até os dias atuais. Ao reagirmos freqüentemente de forma exacerbada às dificuldades do cotidiano acabamos por adoecer, tanto mental quanto fisicamente. O que nos tempos primitivos era um "super" sistema de proteção, hoje se transformou em uma poderosa arma, que o homem moderno precisa aprender a reduzir seu poder de fogo. Os transtornos de ansiedade possuem diversos espectros que variam em grau, intensidade e na forma como se apresentam. Podemos percebê-los em diversas situações, tais como nas lembranças que nos perseguem após uma experiência traumática ou quando sentimos a morte de perto; no medo intenso de falar em público ou participar de eventos sociais; no temor exacerbado de determinados objetos ou animais (elevador, avião, insetos). Também são perceptíveis no terror (pânico) que surge do "nada" e nos dá a sensação de que podemos morrer a qualquer momento; nas preocupações excessivas com os fatos mais corriqueiros e triviais; nos pensamentos obsessivos e comportamentos repetitivos, mais conhecidos como "manias", entre outros. Cada um desses transtornos tem características e manifestações distintas, mas todos possuem a mesma matriz: uma personalidade ansiosa. Qualquer que seja o transtorno de ansiedade, todos eles têm em comum a presença de uma série de sintomas físicos (taquicardia, sudorese, tontura, cólicas, náusea, falta de ar etc.) e de sintomas psíquicos (inquietação, irritabilidade, sobressaltos, insegurança, insônia, dificuldade de concentração, sensação de estranheza etc.). Os transtornos de ansiedade ocorrem com uma freqüência muito alta na população em geral. Cerca de 25% das pessoas sofrem ou sofrerão algum tipo de transtorno de ansiedade ao longo de suas vidas. Esse percentual tão elevado se deve ao fato de que grande parte dos indivíduos portadores de transtornos de ansiedade não procura tratamento e também tenta esconder seus sintomas das outras pessoas. Além da presença de ansiedade, a principal característica dos transtornos de ansiedade é o comportamento de esquiva: a pessoa tende a evitar determinadas situações, onde a ansiedade intensa pode se manifestar. Esquivar-se de situações que lhes causem ansiedade é um tremendo equívoco: o famoso "tiro no pé". A princípio, evitar uma situação temida causa uma sensação de alívio, mas com o decorrer do tempo o medo aumenta a ponto da pessoa se isolar. Somente quando o medo anormal (patológico) se manifesta de forma marcante, com prejuízos concretos nos setores social, afetivo, acadêmico e/ou profissional do indivíduo, é que ele pensa em buscar ajuda especializada. Até lá, infelizmente, o sofrimento foi intenso, arruinou sonhos e pode ter destruído toda uma existência. Nota do Editor: Drª Ana Beatriz B. Silva é médica psiquiatra, escritora, professora Honoris Causa da UniFMU (SP), diretora das clínicas Medicina do Comportamento (RJ e SP). Autora de "Mentes com Medo: da compreensão à superação". Drª Mirian Pirolo é assessora literária e farmacêutica-bioquímica - Medicina do Comportamento (RJ).
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