Vou começar o texto com uma pergunta: qual foi a última vez que você comprou um porta-retratos? Lá em casa, pelo menos, já se vão uns 5 ou 6 anos que minha mãe não compra essas quinquilharias. E trato como quinquilharia sim. Apesar de não ter nada contra fotos (sim, elas nos remetem a momentos de nossas vidas, bons ou ruins), andei me perguntando neste fim de semana sobre a utilidade do porta-retratos nos dias atuais. Comecei a pensar sobre isso quando, no último sábado à noite, participava de uma festa, e vi na mesa em frente um grupo de amigos, cada qual munido de suas máquinas digitais, que atiravam flashes para tudo quanto é lado.

E abrirei o segundo parágrafo com outra pergunta: quando foi a última vez que você pegou (no sentido de manusear) em uma fotografia? Parece que aquele grupo de amigos (assim como eu) tem alguns anos que não coloca as mãos em uma foto (não conta foto em jornal ou revista; digamos, só fotos pessoais). Ainda mais agora, que o orkut ampliou seu número de fotos de 12 para não sei lá quantas imagens (ainda não tive paciência de contar, embora já me disseram que são em torno de 40).

E garanto a vocês que, as fotos tiradas aos montes no festejo de sábado, estarão devidamente postadas no orkut de cada um. Possivelmente com as legendas: "Eu e minhas miguxas no meu niver". Ou "Eu, Rê, Fabi e Mari" (nomes fictícios, que só estão aqui ilustrando por serem comuns). Mas retomo a pergunta principal desse texto. Será que alguma dessas pessoas terá o trabalho de imprimir uma dentre as zilhões de fotos tiradas e colocará no porta-retrato da sala?

Pois é, meus caros amigos, os porta-retratos estão em extinção. Assim como a pochette (= cafona), o tijolão e o bip. E junto com os porta-retratos, está indo embora também algo que os mantinham vivos até tempos atrás: a velha máquina de tirar retrato. O orkut está para as fotos digitais assim como o porta-retratos está para a velha máquina-saboneteira (como chamava uma professora de fotografia). Hoje em dia, até os mais idosos apelam para os brinquedinhos modernos, e ficam estupefatos com as máquinas digitais. Tiram foto de sua velha esposa (ou esposa velha, tanto faz), da dentadura da velha, das pelancas da velha, das rugas da velha e por aí vai.

Mas não é por isso que os porta-retratos vão sumir de nossas estantes. Pode ser que ninguém mais os compre por aí, porém, eles continuarão adornando nossas salas, ao lado daqueles jarros e vasos de plantas, ganhando pó. Se bobear, você até comprou, mas por falta de retratos "físicos", deixou na estante com a foto ilustrativa daquela criança brincando num parque com um cachorro. Durante a leitura desse texto, você deve ter esforçado sua memória para lembrar quando foi a última vez em que comprou um porta-retratos. Será que as fotos dos porta-retratos passarão todas para os álbuns de família? Aliás, você se lembra a última vez em que viu o álbum de sua família?

Nota do Editor: Renan Oliveira é jornalista.