Se contrair a popular catapora na gravidez, a mulher pode apresentar a forma grave da doença, além de complicações. As conseqüências para o bebê variam conforme o período em que a gestante foi infectada. A vacina é a melhor maneira de prevenir a doença em crianças, jovens e adultos. Estudo publicado em agosto pelo jornal científico britânico Vaccine revela que na Itália 20% das mulheres em idade fértil são suscetíveis a contrair varicela - a popular catapora. Já no Brasil, trabalhos científicos demonstram que 10% da população acima de 10 anos encontra-se vulnerável à varicela. Causada pelo vírus Varicela Zoster, esta doença infecciosa apresenta maior incidência na primavera. Altamente transmissível, atinge indiscriminadamente crianças, jovens e adultos, provocando lesões na pele e nas mucosas, coceira intensa, febre e dor. Os sintomas iniciais são semelhantes aos de uma virose: febre, coriza e tosse. Até que surgem pequenas manchas nas costas, peito e abdômen. As manchas se transformam em bolinhas vermelhas (pápulas), que se transformam em bolhinhas com líquido (vesículas) e, finalmente, crostas (casquinhas). Em crianças, esse processo progressivo gera de 250 a 500 lesões pelo corpo. Quem nunca contraiu a varicela tem na vacina a forma ideal de proteção. A Varicela Biken, comercializada pela Sanofi Pasteur, por exemplo, oferece proteção superior a 95% contra as formas graves e moderadas e superior a 85% contra qualquer forma de varicela. Entretanto, não pode ser administrada em gestantes, menores de um ano, pessoas em tratamento com altas dosagens de corticóides ou com deficiência no sistema imunológico. Como não pode se imunizar durante a gestação, a futura mamãe precisa tomar a vacina até um mês antes de engravidar. Caso contrário, se contrair a varicela durante a gravidez, corre o risco de ter a forma grave da doença, que provoca de 500 a mil lesões no corpo - o dobro do tipo leve. Isto porque seu sistema imunológico está vulnerável. Pode ainda desenvolver um dos três tipos de complicação da varicela. Os mais comuns são as lesões na peles, seguidos de problemas no sistema nervoso e nas vias respiratórias. De acordo com Lucia Bricks, gerente-médica da Sanofi Pasteur e professora doutora colaborada da Faculdade de Medicina da USP, a pneumonia é principal causa de internação por varicela em adolescentes e adultos. Nos Estados Unidos, a literatura médica aponta que a mortalidade por pneumonia secundária é de 10 a 20% na população em geral e 45% em gestantes. A cerebelite (infecção no cerebelo, órgão responsável pelo equilíbrio) é a complicação neurológica mais comum e a encefalite (inflamação no cérebro) a mais grave. Mesmo antes de saber que está doente, a pessoa começa a transmitir o vírus, porque os sintomas só se manifestam entre 14 a 21 dias após o contágio. Já o maior risco de transmissão ocorre 48 horas antes de surgirem os sintomas. Para se contrair a varicela, basta entrar em contato com as vesículas do doente ou as gotículas que ele expele pelo ar. Varicela e rubéola "Assim como precisa se proteger contra a rubéola, a mulher que nunca teve a varicela e planeja engravidar deve tomar a vacina", afirma a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai. Segundo a médica, a rubéola e suas conseqüências sobre o feto são mais conhecidas por ser uma doença mais comum entre adultos do que a varicela, cujo vírus infecta a maior parte da população, cerca de 70%, até os dez anos de idade. Por isso, as pessoas desconhecem os efeitos da doença sobre os adultos, principalmente sobre a gestante e o feto. Essas conseqüências variam de acordo com o período da gravidez em que houve a contaminação. Se for no primeiro trimestre, a varicela pode provocar desde a má formação do feto (atingindo membros, órgãos e o cérebro) até a morte dele. Após o sexto mês, o bebê pode nascer com varicela inaparente e desenvolver herpes zoster na fase adulta ou na velhice. Esta doença causa lesões na pele, principalmente no tronco, e intensa dor. O maior problema ocorre quando a mulher apresenta os sintomas da varicela cinco dias antes do parto ou dois dias após o nascimento do bebê. Como não conseguiu desenvolver ainda anticorpos contra o vírus, ela adoece e passa o vírus em grande quantidade ao recém-nascido. No bebê, a doença é muito grave, porque seu sistema imunológico é imaturo. "Nesses casos, os médicos têm de aplicar um anticorpo específico para varicela (a imunoglobulina) para proteger rapidamente o recém-nascido contra a infecção", explica a médica especializada em infectologia pediátrica Lily Yin Weckx, professora chefe de Infectologia Pediátrica da Unifesp, responsável pelo Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais da Unifesp e membro da Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações da Secretaria de Estado da Saúde. "Todas as mulheres que desejam ser mães devem se vacinar contra a varicela. A preocupação deve ser maior entre aquelas que lidam com crianças e trabalham em locais onde ocorrem os surtos, como creches, pré-escolas e escolas", explica a Isabela Ballalai. Imunização A vacina contra varicela é recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pela SBIm embora ainda não integre o calendário oficial de imunização. Há 12 anos, os Estados Unidos introduziram a vacina no calendário básico para reduzir os quatro milhões de casos, 11 mil internações e cem mortes por ano registrados até então. Dos óbitos, a maior parte era de crianças saudáveis até 14 anos. No Brasil, a varicela não é uma doença de notificação compulsória, exceto quando ocorrem surtos em creches, pré-escolas, escolas e na comunidade que são notificados ao Sistema Nacional de Agravos Notificáveis (Sinan). No ano passado, a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo registrou 3.408 surtos, com 18.554 casos, dos quais 56,7% em crianças de um a quatro anos e 31% na faixa de cinco a nove anos. Como é produzida com vírus vivos atenuados (enfraquecidos), a vacina deve ser aplicada em crianças maiores de 12 meses, a exemplo do procedimento adotado com a vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola). Isto porque até um ano de idade, o bebê carrega os anticorpos da mãe, que podem neutralizar o efeito da vacina. A proteção da vacina também é mais longa quando aplicada após um ano de idade. A imunização só deve ser feita antes desta idade, se houver contato do bebê com uma pessoa doente. A vacina evita a varicela quando aplicada até 72 horas após a exposição ao vírus, não só em bebê, mas também em pessoas todas as faixas etárias. Caso os pais não tenham aplicado a vacina em seu filho ao completar um ano, devem fazer a imunização antes de a criança ingressar numa creche, pré-escola ou escola - locais onde normalmente ocorrem os surtos. Nos Estados Unidos, escolas de muitos estados já passaram a exigir a comprovação desta vacina antes da admissão do aluno. "Estudos realizados na cidade de São Paulo revelaram que as crianças que freqüentam creches apresentam maior risco de complicações e óbitos quando contraem varicela", afirma Lucia Bricks.
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