O jovem estava sentado em uma pedra, debaixo de um pé de jambo esperando o tempo passar. Catava as flores rosadas e despenadas que caíam da árvore, e colocava na boca, sentindo o gosto azedo da futura fruta. Ao olhar para a esquina, observava a chegada do circo. Havia uma carreta e alguns carros. Levantou-se, movido pela curiosidade, para ver o que havia de diferente. De início, nada de novo, apenas cores. Correu por uma rua, escutando apenas as buzinas dos carros pela outra. Catou uma vara e a passava pelos jardins fazendo voar pétalas. Chegou ao outro quarteirão viu a carreta parar para acampar em um enorme terreno. De longe, observou uma jaula e um triste olhar. Aconteceu o amor. Não houve sorriso; apenas compreensão. Foram apenas alguns instantes até que uma enorme lona foi jogada sobre a jaula. O jovem desesperou-se, havia ecoado um som diferente dentro de si. Em casa, meditava horas relembrando o olhar. Não havia nada que o fizesse esquecer. Decidiu então voltar ao circo, todavia, barracas e famílias não iriam permitir que espiasse. Rodeou o terreno com os olhos atentos à jaula coberta. Decidiu sentar. Passou a tarde e a noite chegava gelada. Voltou, sem esperanças, achando que era pura mágica. Tomou banho, perfumou-se e pegou um agasalho. Voltou ao circo, comprou uma pipoca e sentou. Ela então apareceu. Linda, esbravejando e encarando os espectadores. Cruzaram olhares. Ela questionava-se, não queria sentir algo por alguém que lhe era impossível. Acabou o espetáculo, o jovem fingiu ir ao banheiro e foi encontrar a leoa "Serena". Cheiraram-se. Houve um beijo e um convite. Fugiram então para as matas e tornaram-se uma lenda. Foram aqueles que, acreditando no impossível, libertaram-se através do amor. Nota do Editor: Rafael Coelho é acadêmico de jornalismo e presidente do portal de notícias www.palavriando.com.br.
|