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Crônicas
20/10/2007 - 08h49
Adesivo de Kombi
Antônio Máximo de Medeiros da Rocha
 

“Diz que foi vista de madrugada, na esquina do rio, com um charuto na boca, recebendo a pomba-gira”. “Diz que a mãe dorme numa pontinha da cama, porque o resto tá toda ocupada de jornal e revista velha que ele cata no lixo e traz pra casa”. “Tá sabendo fulano?” - o radinho na mão como pra confirmar – “Dinelson, Denilson, Guinelson, o nome eu não sei direito, mas diz que o cara é craque e vem pro Flamengo”.

Trata-se de um sistema de comunicação totalmente despretensioso, sem nenhuma sofisticação, fazendo com que o tal ditado, que começou popular e ganhou grife e que diz que "à mulher de Cesar não basta ser honesta: é indispensável que também pareça honesta", tenha se tornado uma dessas bobagens de deleite exclusivo de publicitários.

Entre os dois sistemas, eu não teria nenhuma dúvida: bem menos presepeira e, portanto, muito mais carioca, uma campanha de revalorização do Rio baseada no "disse-me-disse" que combinasse a lucidez necessária do pensamento de um grande carioca com o abandono de um artificialismo devagar virando vício, de exibir um forçoso carioquismo, do tipo adesivo em pára-brisa de kombi: "Não me inveje, trabalhe".

Bem carioca, porque crítica e autocrítica, o pensamento desse grande carioca, Carlos Lessa, em "Rio de Todos os Brasis", nos diz que "um mito, uma vez desconstruído, não é restaurável. O culto que consagrou a cidade maravilha tropical, com praias, lagoas e florestas por todos os lados foi dissolvido. O Rio, sem a liderança industrial e financeira e sem ser a sede do poder, dispersará alguns recortes ideológicos. O povo do Rio está em movimento restaurando a sua auto-estima".

A violência é a expressão pública da "cidade partida". Expostos ao que há de pior, no asfalto, na favela, devagar abandonamos a condição humana. Morremos sempre da bala precisa, no enfrentamento à soleira da porta, entre a legalidade e a ilegalidade, que, de resto, confundem-se.

"Diz que na esquina da Gonzaga com a Saruê, bem em frente, naquela loja em frente à banca de jornal, tem caveira-de-burro. Já venderam ração pra cachorro, já teve ali um vassoureiro, doceria, agora a próxima a falir é essa oficina de óculos, que, pelo que a fulana me falou, soube direto com a empregada da vizinha que anda com o empregado da loja, não tá bem das pernas, atrasou a luz, não pagou a água..."

Essa vizinha faladeira não precisa que lhe digam, em propaganda cheia de efeitos especiais e tomadas do Cristo em helicóptero, que está praticando o "carioquismo", no modo de falar, no modo de abordar, privilegiando o contorno, a sinuosidade da conversa, que passa pela "fulana", pela empregada e pelo empregado da loja que, certamente - pois não se duvida de informações desse tipo - irá falir.

"Diz que mudou, você precisa ver. Eu tenho lá minhas dúvidas, pau que nasce torto, você sabe, mas, pelo que eu sei, parou de beber, de usar aquelas coisas..."

"Diz que a mãe morreu..."

"...morreu, minha filha, como sofreu, ela que dizia que não queria dar trabalho... você vê... mas, o filho tá aí, vamos ver até quando... a sorte dele foi ter encontrado uma moça muito boa, formada, fina... depois, eu falo dela... tá?"


Nota do Editor: Antônio Máximo de Medeiros da Rocha é jornalista, escritor e artista plástico.

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