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Opinião
21/10/2007 - 09h01
O triunfo do medo
João Luiz Mauad - MSM
 

Alguns meses depois de abocanhar um Oscar, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore foi agraciado, semana passada, com o Prêmio Nobel da Paz. De acordo com os responsáveis pela escolha, "por seus esforços no combate às mudanças climáticas".

Muito interessante, e sintomático, foi o fato de que, na mesma semana, o venerando máximo da religião do aquecimento global esteve nas manchetes inglesas por uma outra razão. É que a alta corte daquele país decidiu que o famigerado documentário "Uma Verdade Inconveniente" somente poderia ser exibido nas escolas britânicas com a devida explicação, prévia, de que o mesmo contém nada menos que – comprovados – "nove erros científicos". Também segundo a referida sentença, os professores ingleses deveriam chamar a atenção dos estudantes para certos "exageros" e para o caráter "alarmista" da película.

Mas o que são meros nove erros, não é mesmo? Nada que tire a importância e a beleza de um filme que nos apresenta a uma "verdade maior", qual seja: somos responsáveis pelas mudanças climáticas que destruirão o mundo, se nada for feito imediatamente. O que, afinal, representam alguns "pequenos" equívocos científicos, desde que eles estejam a serviço de uma verdade maior? Simples acidentes de percurso, sem maiores conseqüências. A exemplo de vários outros veículos de imprensa, engolidos pela onda catastrofista, o Jornal do Brasil estampou a seguinte "pérola", em editorial publicado no dia 16/10: "Embora com alguma imprecisão de dados, o documentário protagonizado pelo político arrancou aplausos da crítica e fez o grande público refletir sobre a questão ambiental. Talvez aí esteja o maior mérito de Al Gore."

Os erros – tanto factuais quanto conceituais – expostos naquela película propagandista manchariam a biografia de qualquer cientista. No entanto, Gore não é um cientista, mas um político cuja intenção não é outra senão politizar a ciência. Em seu mundo, a climatologia não gira em torno da investigação, dos métodos, dos experimentos ou testes de hipóteses. Na práxis goreana, evidências empíricas ou lógicas dão lugar a (in)convenientes verdades e a estranhos consensos.

É difícil ignorar um forte apelo moral nos discursos de Al Gore. A exemplo de um certo líder tupiniquim, ele jamais perde uma oportunidade que seja para vender ao público sua autoproclamada vocação de grande guia dos povos. Sua cruzada, segundo ele mesmo, está voltada a prevenir uma catástrofe global que, por sua vez, é sustentada por verdades irrefutáveis, as quais lhe foram "reveladas" não por entidades supranaturais, mas por um pretenso consenso científico. Seus ataques incessantes contra os chamados "céticos" se devem justamente à necessidade de afirmar este famigerado consenso. Assim, a investigação científica, cujo pressuposto básico é – ou pelo menos deveria ser – a própria dúvida, e nunca a certeza, acaba transformando-se num dogma espiritual. Na religião deste verdadeiro profeta do medo só há espaço para o bem e para o mal, para o comportamento "virtuoso" dos engajados ou "vicioso" dos céticos.

Num mundo onde a razão foi seqüestrada pela paranóia e o apocalipse nos é vendido como iminente, nada mais natural que a busca desesperada por heróis, salvadores da humanidade, líderes espirituais que nos guiarão e protegerão das intempéries provocadas pela nossa própria ganância. Mas isso só não basta. A humanidade está em guerra e, como é natural em tempos de guerra, todo poder e dinheiro deverá ser entregue aos Leviatãs, sem esquecer que, neste caso, como o inimigo é comum a todos, a grande divindade mística, a suprema burocracia supranacional será chamada a descer do Olimpo, às margens do Rio Hudson, para liderar as forças nacionais rumo à vitória final.

O mais estúpido desse prêmio, no entanto, não é tê-lo concedido a um animador de auditórios, mascate de uma "verdade" muito conveniente (para alguns) e nada científica, mas, como bem frisou o Wall Street Journal, preterir alguns personagens cujas causas são muito mais importantes e urgentes, e cujo mérito das ações são inquestionáveis – pelo menos para os amantes da liberdade.

Eis uma pequena lista de alguns destes homens e mulheres, preparada pelo WSJ:

- Os monges budistas de Myanmar, recentemente brutalizados pela junta militar que governa aquele país há anos, em razão de suas ações em defesa da liberdade e da democracia;

- Morgan Tsvangiari, Arthur Mutambara e outros líderes oposicionistas do Zimbábue, presos e espancados no início do ano pela polícia política do ditador Robert Mugabe;

- Nguyen Van Ly, padre católico preso e condenado a oito anos de prisão no Vietnã por sua luta pró-democracia;

- Álvaro Uribe, presidente colombiano, por sua luta incansável contra os terroristas de extrema esquerda (FARC) e os barões da droga naquele país;

- Garry Kasparov e outras centenas de cidadãos russos, presos em abril e continuamente ameaçados por sua resistência ao regime autoritário de Vladmir Putin;

- Vitor Yushchenko e Mikheil Saakasshvilli, presidentes da Ucrânia e da Geórgia, respectivamente, por sua resistência em face dos constantes esforços do Kremlin para subjugar aqueles Estados soberanos.

- (postumamente) Walid Eido, Pierre Gemayel, Antoine Ghanen, Rafik Hariri, George Hawi, Gibran Tueni, Samir Kassir e outros cidadãos libaneses, assassinados desde 2005, em razão de sua luta para libertar o Líbano do controle sírio.

- Reverendo Phillip Buck, Pastor Chun Ki Won e sua organização Durihana; Tim Peters e a Organização Helping Hands Korea, que ajudam refugiados norte-coreanos a escapar do brutal regime comunista da Coréia do Norte.

Esperemos que eles, bem como outros milhares de homens e mulheres que põem suas vidas cotidianamente em risco, na tentativa de banir do mundo a violência e a opressão, sobrevivam mais um ano e – quem sabe? – possam ser lembrados pelo comitê do Prêmio Nobel, na edição de 2008.


Nota do Editor: João Luiz Mauad é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.

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