Guida é uma mulher questionadora. Perto de completar trinta anos, está fazendo uma reavaliação, digamos, interna, íntima se preferir. Ela quer ser feliz - talvez seja e não saiba - e para isso acredita que precisa fazer alguns ajustes. Está sem emprego, sem namorado, sem grana, morando com a mãe cardíaca e hipertensa. Ah, e tem uma filha. Claro, agora só faltam a árvore e o livro. Ela olha para trás e procura no passado as possíveis causas para tais conseqüências. Tanta leitura a menos, tanto barzinho a mais, tanta dedicação a menos, tanta rebeldia a mais... tantas paixões vividas, ai, desorganizando as sinapses, alterando toda a química, impossibilitando a concentração para qualquer coisa mais elaborada. Ufa!! Essas sensações que os românticos sabiam tão bem descrever! Para lidar com os reveses da vida, Guida percebeu que deve se equilibrar, ao menos tentar. Ela está nesta busca há algum tempo, uns dez anos talvez. No quesito religiões, experimentou catolicismo, kardecismo, umbanda, com passagens rápidas pelo candomblé, além de transitar pelo vasto universo oriental estudando budismo, hinduísmo, taoísmo. Ah, leu o Osho com bastante entusiasmo e chegou a se identificar, mas arrumou uma terapeuta holística que tem iniciação no xamanismo e resolveu experimentar. Ih, vai virar índia! Já no ramo dos medicamentos, a moça é também bastante variada! Tarja preta para controlar a ansiedade, valeriana só para amenizar, algumas doses de fundo para tirar a amargura, e os florais, claro, não poderiam faltar: de Bach, de Minas, o importante é não desanimar! Alguém precisa dizer para Guida que ela não deve se preocupar. A felicidade não é a mesma para todos. Carreira, dinheiro, fama, companhia, ajudam, sim, mas não são essenciais. Bom mesmo é olhar para trás e perceber que os aparentes deslizes e tropeços foram fundamentais para a formação da identidade desta mulher maravilhosa, com um vasto universo interior, sensível, inteligente, aberta às diferenças, e feliz sim, a seu modo. Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista.
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