A primeira coisa que se percebe à leitura do artigo do ministro Patrus Ananias, publicado na Folha de São Paulo ("A desigualdade é violência") é que ele escreve mal e tudo que ele queria dizer está contido no título. O corpo do texto anda em círculo tautológico, como se o ministro quisesse se convencer a si mesmo de que a fonte da violência é a pobreza. Só consegue sair desse besteirol circular quando elege os supostos culpados pelos violência - os liberais, claro - no que precisa ser duramente contestado. Tomemos suas primeiras linhas: "QUAL É exatamente a relação entre violência e pobreza? É preciso estabelecê-la adequadamente, de maneira esclarecedora, pois a ligação entre os dois temas se dá por meio de uma rede de amplos alcances. Não se chega a um por meio do outro sem que, no entorno e no caminho, nos deparemos com uma série de outras confluências no campo das políticas públicas. Não tratamos da violência dos pobres, que são principalmente honrados trabalhadores, mas da pobreza e da desigualdade. A pobreza, violenta em si, mata silenciosamente pela fome, pela desnutrição, pela ausência de cuidados básicos. Mas é necessário reforçar que a desigualdade é a fonte de alimentação do caldo de violência que preocupa o país". Veja-se como argumenta mal e saiu do tema de forma erística. Quer discutir violência e não pode pôr nos dos ombros dos pobres a responsabilidade. Identifica pobreza com desigualdade, o mantra eterno de todos os marxistas e mal intencionados esquerdistas de modo geral. Na verdade é a desculpa mais esfarrapada que eles acham para justificar sua plataforma política que delega ao Estado o poder para a superação dos males humanos. A pobreza não é uma violência em si, como a riqueza não o é e também não é o seu contrário, a beatitude em vida. Violência em si é a pregação da igualdade, quando se sabe que os homens nascem desiguais em talentos e vocações e nisso é constituída a peculiaridade da vida humana. Tentar nivelar os homens é o sonho de todos os gnósticos de todos os tempos, a grande violência do espírito, a escravização do homem ao Estado, fato que só o totalitarismo conseguiu, ao custo de muitos milhões de mortos, se é que conseguiu, pois sempre houve a classe dos mais iguais que os outros, os dirigentes da igualdade. Vimos isso na ex-URSS, em Cuba, na Alemanha nazista e onde mais o totalitarismo se implantou, sempre empunhando a bandeira da igualdade. O fato é que a violência está bem espalhada pelos membros de todas as classes sociais no Brasil e nenhuma dessas classes é ou vítima preferencial ou algoz preferencial das outras classes. Vimos o que houve com o inexplicável assassinato de Celso Daniel, barbaramente torturado antes do tiro fatal, fato que nada teve a ver com desigualdade alguma, mas com acerto entre gangues enquistadas no poder. Ou então o seqüestro de gente ilustre, como o de Abílio Diniz, ardilosamente arquitetado desde fora do país por grupos revolucionários aliados de partidos revolucionários brasileiros. Todos nós sabemos do infame cativeiro a que ficou confinado o empresário e como só por um milagre sobreviveu sem maiores seqüelas à infinita violência que lhe infligiram. Vemos a violência praticada cotidianamente pelo MST, bancada com recursos públicos e anunciada e planejada com antecedência diante de câmeras de televisão, sob os braços cruzados da polícia e da Justiça de muitos estados. Aqui é uma violência organizada e institucionalizada para a revolução, formando uma milícia audaciosa, rapaz, voraz e que se origina diretamente dos órgãos do Estado. Vemos a violência oriunda das drogas e não escapa ao observador que enquanto as FARC forem amigas do partido que está no poder não há como evitar a importação ilegal do produto. Grande parte da violência organizada pelas gangues de traficantes só existe porque há um acumpliciamento político que impede a ação policial decisiva para cessar o tráfico internacional. Combater traficantes no morro é necessários mas não resolve o problema maior. Já a violência de todo dia a que os brasileiros estão sujeitos se deve ao fato de os partidos de esquerda terem desarmados os bons cidadãos na cínica hipótese de que o Estado tem o monopólio da força e de que pode estar em todos os lugares, podendo se antecipar aos crimes. Cínico e tolo, na verdade essa tese é criminosa e é, a meu ver, a grande responsável pela violência disseminada no varejo em todo o Brasil. O meliante sabe que sua vítima não tem como reagir e qualquer arminha de fogo gera uma desproporção de forças diante da vítima inerme. Seguir as leis nesse quesito pode ser uma sentença de morte. Qualquer política sensata de Segurança Pública começa por armar os cidadãos capazes de portar armas. Falar em combate à violência sem corrigir isso não é realista. O ministro elege os culpados: "Cabe-nos o desafio de recuperar a vida como valor central de todas as nossas relações sociais. Faz parte do enfrentamento de um grave problema de ordem ética e moral imposta a partir da hegemonia do pensamento liberal e neoliberal, que nos legou uma sociedade em que as mercadorias perdem a referência de sua razão social e vivem por si, alimentada por uma cultura imediatista e hedonista. Tudo, inclusive o corpo, é mercadoria e se banaliza". Ora, se existe uma hegemonia de pensamento no Brasil certamente não é ele o liberal, mas o esquerdismo em suas diferentes facetas. A palavra liberal aqui entra como um fantasma inventado, um inimigo criado para servir de Judas. Rigorosamente quem é hedonista são aqueles que acham que implantando a igualdade se instalaria, por passe de mágica, o Paraíso na Terra. A cultura imediatista é daqueles que fabricam bolsa-esmola para comprar os votos dos miseráveis. Num ponto o ministro tem razão, ao endossar o trabalho de Mary Jane Corner em Brasília, atendendo aos figurões da República. Para ela e seus clientes o corpo é mercadoria, sim. De novo o raciocínio inválido para justificar a própria pasta de que Ananias é titular, a assim chamada do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome. Se tivéssemos um governo de plataforma liberal no poder uma excrescência dessas não estaria no organograma da República. Nem suas bolsas e nem esse discurso besta em prol da igualdade. Mas o fato é que a esquerda tomou conta de tudo e como não tem instrumentos para corrigir as anomalias criadas por ela própria, vem o Ananias com essa patacoada inconsistente. Essa gente não pode ser levada a sério. O que fazem é loucura, o que escrevem é besteira e o que propõem inexeqüível. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL - Associação Nacional de Livrarias.
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