Ao completar meus 20 anos de carreira como nutricionista, reforço minha convicção de que precisamos rever o atual conceito de alimentação que predomina na sociedade, e que representa, por muitas causas, um sério e complexo problema de saúde pública. A cada dia, aumentam os índices de obesidade, as taxas de colesterol e de triglicérides, diabetes, entre outras, principalmente entre crianças e adolescentes. É evidente que a qualidade e a quantidade dos alimentos utilizados ao longo da vida, afetam direta e profundamente a saúde do cidadão. Os hábitos alimentares da civilização atual que prefere alimentos prontos, industrializados e com baixo consumo de saladas, verduras e frutas, somando-se ao sedentarismo, são as principais causas. Segundo recente pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), que entrevistou 2.420 pessoas, em 150 municípios de todo o país, a somatória dos índices de sobrepeso e obesidade, corresponde a 60% nas classes A e B, e a 52% nas classes sociais C, D e E. Entre os nutrientes em falta na mesa do brasileiro, estão as vitaminas, C (encontrada nas frutas, saladas e legumes), A (vegetais amarelos), D (gema de ovo e fígado) e E (óleos vegetais), além do cálcio (leite e verduras escuras) e do magnésio (cereais em grãos). A pesquisa constatou, ainda, que a tradicional combinação de arroz, feijão e carne do brasileiro, atualmente, não vem com salada, o que diminui a quantidade de vitaminas. Essa realidade serve de alerta para que reorganizemos nossa alimentação com objetivo de tratarmos a causa e não somente o efeito. Quando digo ‘reorganizar’, me refiro, também, ao prazer que uma pessoa deve ter ao se alimentar, ou seja, saber comer o que gosta dentro de um contexto saudável. Nesse caso, é preciso conhecer os grupos de alimentos. Os reguladores são ricos em vitaminas, sais minerais e fibras (saladas, verduras, legumes, frutas etc.). Os construtores são ricos em proteínas (carne, leite, ovos, derivados). Já os energéticos são ricos em carboidratos e gorduras (açúcares, arroz, trigo, massas óleos etc.). Basicamente é o que chamamos “reeducação” ou “reorganização alimentar” para a vida toda, sem restrições. Vale lembrar que também é importante fazermos as “compensações” quando nos alimentarmos em excesso. Outro alerta é para que fiquemos atentos as novas “invenções” ou “descobertas”, “imediatistas” e “milagrosas”, no campo nutricional, e que fatalmente vêm acompanhadas de perda de água corporal e massa muscular. São opções sem nenhuma fundamentação científica que pouco, ou nunca, foram testadas quanto à sua segurança de adequação nutricional. Até que estudos científicos provem o contrário, esses produtos não apresentam o efeito de alterar o metabolismo das pessoas, o que faz o usuário retornar aos hábitos alimentares anteriores. Outro estudo recente revela a existência de mais de 1.200 alternativas para que uma pessoa consiga emagrecer, entre dietas, regimes, suplementos alimentares, shakes e medicamentos. Todas conseguem a redução de peso (gordura, água e massa muscular), em maior ou menor quantidade, porém, nenhuma consegue a manutenção, posteriormente. Quanto a cirurgia de redução de estômago, pesquisa feita no Hospital das Clínicas de São Paulo (2006), demonstrou que, após 5 anos, 64% dos pacientes submetidos à esse procedimento voltam a ser obesos, sofrendo, posteriormente, alguns efeitos colaterais como fratura espontânea de ossos, depressão, entre outros. Reorganizando nossa alimentação, modificaremos o atual conceito de saúde nutricional, que passa a ser preventivo (e não restritivo), e prazeroso. É uma forma de valorizarmos que Deus nos deu de mais sagrado, a “Vida”. Nota do Editor: Dr. Luiz Evaristo Sinicio é nutricionista há 20 anos, com especialização em nutrição clínica, pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto/SP.
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