Assisti ao filme "Tropa de Elite", no qual o provável bastidor da Polícia Militar é exposto, com cenas de corrupção e violência. Pelo tanto que já ouvi sobre o filme, supunha que ficaria chocada com as revelações, mas não me surpreenderam. Gostei do roteiro, da atuação dos atores e considero importantes os debates provocados por ele. Era uma "sujeira" que estava debaixo do tapete, embora vez ou outra já aparecesse quando de denúncias.

Apreciei a ênfase dada ao consumo de drogas por universitários - a maioria de classe média -, com a mensagem clara de que são cúmplices de traficantes e também responsáveis pelo aumento da violência, por crimes cometidos, por tantas crianças mortas nas favelas em disputas pelo tráfico e na "guerra" entre bandidos e polícia.

Achaque de comerciantes por policiais; perseguição a militares honestos pelos colegas de corporação, inclusive de superiores hierárquicos; sucateamento da frota militar; falta de estrutura de trabalho; estresse emocional: temas explorados em "A tropa de elite". Não me compete afirmar se tudo isso acontece mesmo, mas não é difícil lembrar fatos que a mídia registra ao longo da história.

Em todo lugar há homens e mulheres com e sem caráter; honestos e desonestos. Receio, contudo, que as práticas constantes nos levem a achar normais condutas tipificadas como criminosas. Certa vez eu disse pra um policial que jamais compraria um gabarito para que eu ou um filho meu fôssemos aprovados em um concurso público. A observação dele foi no mínimo de mau gosto: "Pra cima de mim? Quero ver você dizer isso quando sair um filho do teu útero!" - foi mais ou menos assim que comentou.

Eu não sei quem é você. Se viu ou não o filme; se é policial; se estudante que consome drogas ou que trafica. Não sei se está do lado dos que aplaudem a corrupção e colaboram com ela ou do lado dos que a refutam e lutam contra ela. Seja qual for, não dá pra negar que temos nossa parcela de responsabilidade, como alerta o filósofo Hans Jonas: "Comporta-te de tal maneira que os efeitos de tuas ações sejam compatíveis com a permanência da natureza e da vida humana sobre a Terra".

Nota do Editor: Fátima Nascimento é jornalista, radialista e advogada que "despe" as palavras que "veste" no blog Verbo Solto e busca uma editora para publicação de suas crônicas.