Os deputados Raul Jungman e Fernando Gabeira me deixaram perplexo quando participaram daquela confusão na entrada do Congresso, no dia do julgamento de Renan Calheiros. Tentaram entrar no plenário do Senado e foram impedidos pelos seguranças, entre gritos e empurrões... Nunca imaginei vê-los saindo no tapa. Não combina com eles... Pois naquele dia, como em tantos outros, assistimos a um confronto entre coragens. De um lado a coragem moral impelindo os deputados para dentro do plenário para fiscalizar uma votação que prometia ser - como foi - vergonhosamente arranjada. De outro lado a coragem física dos seguranças a serviço dos covardes morais impedindo-os de entrar. No campo das discussões ideológicas, coragem física é arma de quem não tem capacidade para enfrentar desafios intelectuais. Faltam argumentos? Porrada! E em nossa sociedade, infelizmente, a coragem física é mais aceita e incentivada que a coragem moral. A coragem física tem beleza plástica. Motiva. Faz história, recebe medalhas, aparece na mídia, produz heróis. A coragem física de um bombeiro que arrisca a vida, por exemplo. A coragem do policial que combate o criminoso. A coragem do soldado que enfrenta as balas do inimigo. A coragem do domador diante do leão. Do trapezista lançando-se no espaço. A coragem do atleta que se expõe a contusões em busca da vitória. A coragem de seu filho ou sobrinho, que tira as rodinhas de apoio da bicicleta e sai equilibrando-se pela primeira vez... Já a coragem moral não é transmitida ao vivo pela televisão. E, se for, raramente é compreendida. Coragem moral é discreta, virtualmente invisível. É muito comum que seja exercida de forma solitária. Não dá pra sentir sua força. A coragem moral raramente dá medalha, pódio ou estatuetas. Não pode ser comprada nem emprestada. E por isso as pessoas não vêem importância nela. Já a coragem física todo mundo vê. Implica numa certa truculência. Em treinamento incansável. No desenvolvimento de reflexos. No condicionamento para responder aos momentos de pressão. E pode ser comprada. Aqueles leões-de-chácara que quebram braços são comprados pelos covardes morais. E ganham sempre, na porrada, no curto prazo. O que acontece hoje no Congresso brasileiro é uma luta quase impossível de três ou quatro dezenas de corajosos morais contra centenas de covardes morais, que atuam com portas fechadas, bem distantes de nossos olhos. O irônico é que nos bastidores do embate moral, a coragem física é mero instrumento, o que torna a coragem moral mais importante. No entanto... Como dar valor a uma coragem que ninguém vê? Ou entende? Que não interessa à mídia? Que não se aprende na escola? Que não é referência? Talvez os corajosos morais devessem comprar uns corajosos físicos e organizar uma militância para impor a moral na porrada. - Mas isso é imoral! Pois é... Nota do Editor: Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil, acesse www.lucianopires.com.br.
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