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Crônicas
04/11/2007 - 14h04
E o Prêmio André Falavigna vai para...
André Falavigna
 

Sim, é isso mesmo. Eu, do alto de minha infinita modéstia, instituí um prêmio baseado em minha pessoa e, ainda, emprestei meu nome à cobiçada honraria. E isso não é de hoje. Já estamos ali pela sétima ou oitava edição. O bom é que eu mesmo já o arrematei algumas vezes. Foi uma emoção danada. Não se trata de pouca coisa, como vocês poderão verificar quando tivermos terminado de explicar a coisa toda. E o plural majestático, aqui, não é gratuito. Há realmente muitas pessoas envolvidas na seleção dos candidatos e na escolha do vencedor. A comissão julgadora é bastante séria. Nós nos escolhemos para os nossos cargos há mais de sete anos, e, até hoje, não nos substituímos. É conservadorismo e tradição a dar com pau. O presidente da mesa é este que vos escreve. Os demais membros da Academia preferem permanecer incógnitos. Mas existem, e são os principais responsáveis pelos relatórios que dão conta dos episódios cujos autores reúnem méritos suficientes para participar da disputa. E em que consiste essa, afinal? Vejamos. Vocês vão adorar.

Leva o prêmio André Falavigna o camarada que, entre o Natal do ano anterior e o Natal do ano corrente, tiver submetido à apreciação da banca episódio de grosseria injustificada dirigida contra pessoa que pela grosseria não esperava e nem a ela tenha feito jus, produzida única e exclusivamente pela incúria e pelo excesso de sinceridade do ofensor que, de mais a mais, não estará fazendo nada além de dar mostra ímpar de inconveniência, falta de educação e indubitável senso prático.

É simples, hein? Sim, mas eis a oportunidade de ceder qualquer coisa à moderna pedagogia: alguns exemplos e teremos obtido melhor entendimento de todos, que então poderão aproveitar a ocasião para oferecer cada qual sua contribuição ao cotejo. Ainda é tempo, mas apressem-se. O Natal está aí. Percebam o tipo de coisa que estamos procurando.

Tudo sempre corre em forma de diálogo, que é sob a qual surgem as melhores baixarias. E tem que ser mais ou menos rápido, sem muita elaboração. O improviso é um dos mais importantes quesitos a compor a avaliação dos candidatos. Mais ou menos nessa linha:

Há poucos anos, certo amigo meu (agora vocês vão entender a necessidade de sigilo), acuado pela chuva fantástica que caíra durante todo o dia, resolveu voltar do trabalho para casa aceitando carona de uma coleguinha. Miúda, de formas bastante aceitáveis e um tanto desfrutável, a moça era casada com um surpreendente mastodonte selvagem que destoava dela como poucas outras criaturas, marinhas ou terrestres, teriam o ensejo de destoar de quaisquer outras criaturas, ovíparas ou não. O homem, para falar a verdade, destoava do mundo. Ele é quem buscava a esposa no trabalho e é no carro dele que meu amigo entrou. Há que se destacar que aquela era a primeira vez do pobre no automóvel do casal. Logo de cara, o sortudo pôde assistir a seguinte conversação, iniciada pela garota:

- Nossa amor, tô com uma fome...

- Se preocupa não, rapidinho a gente tá em casa.

- Nossa, mas é fominha mesmo, viu?

- Ah, é? E que tal mastigar uma fronha daqui a pouco?

O que vocês acham? Não é tocante? Reparem no senso de oportunidade do vencedor (sim, ele foi o vencedor) do prêmio de 2005. A gente pode perceber em cada detalhe do caso que a resposta não tinha a menor razão de estar ali. Quanta leveza e, sobretudo, quanta gratuidade. Foi dos prêmios mais justos que já outorguei. Mas há mais. Muito mais.

Interior de São Paulo. Sabem como é. A menina vai ao Mac Donald’s, precisa por salto alto. Maquiagem. Acessórios. É fenomenal, vocês precisavam ver. Em Barretos, por exemplo, a turma se arruma para ir tomar injeção. Pois bem. Outra cidade, próxima até. Menor do que Barretos. Mínima, portanto. A menina, quinze aninhos, se prepara a fim de, sei lá, tomar sorvete. Depois de pronta, vestidinho estampado, brinquinhos de pedrinhas e sandalinha da moda, aproxima-se do pai para aquele beijinho de tchau e de até tal horas esteja de volta. Desfrutem deste rápido diálogo que dá conta da tensão latente e saudável entre a juventude que testa e rompe limites e a figura paternal, que oferece a resistência necessária a esse bonito processo de amadurecimento:

- Tchau, papai, vou tomar sorvete com a Betina (sempre há uma Betina nessas turmas) e a Aninha lá na pracinha! Volto rapidinho!

- Pois é, e de novo enfiada nesse modelito por-favor-venham-me-foder!

Isso aconteceu. Eu não acreditaria, mas a informação é de fonte honestíssima. Além do mais, recentemente estive por aquelas plagas e testemunhei esta outra cena, que passo a descrever: um senhor, amigo e convidado de uma família que se reunia para confraternizar muitas coisas em grande estilo, aproxima-se da mais vetusta e simpática senhora do círculo e diz o seguinte:

- Nossa, como a senhora está velha!

Assim mesmo, sem maiores rodeios, como sói ocorrer aos corações valentes. Vindo daquela região, nada mais pode me assustar, portanto. Nem deveria. Afinal de contas, eu mesmo já fiz jus ao prêmio, como informei lá no início. Foi assim.

No tempo em que freqüentava o Sujinho da Rio Branco quase que cinco vezes por semana, encontrava-me aos sábados com a Jovem Esposa (à época, Pequenina Namorada) lá mesmo. Chegávamos, eu e mais cerca de cinco cafajestes, lá pelas 11:00. Ela, vinda do trabalho, lá pelas 15:00 ou mais. É claro que já estávamos bêbados àquela altura. E não havia outras mulheres. A Pequenina Namorada suportava então algumas horas de exaltados debates acerca de futebol moderno, boxe, música, futebol clássico, política e sobre o futuro do futebol. É verdade, ela divertia-se entremeando as discussões com observações despropositadas e imorais, mas havia sempre aquele momento em que não via a hora de ir embora. Afinal de contas, eu, sozinho, sou consideravelmente mais gostoso. Isso é inegável.

Foi numa ocasião assim que, abraçando-a pelos ombros, por de trás da cadeira, achei engraçado aproveitar uma daquelas baixas na conversa nas quais só se houve a nossa voz para dizer-lhe, pastoso, como se fosse só entre nós dois:

- E aí, amor, vamos pegar aquele motelzinho agora?

E não foi só isso. Também saí vencedor no ano em que, às vésperas do dia dos namorados, encontrei companheiros de boteco no Bar Universitário, na Maria Antônia (também conhecido por muita gente como Sujinho, o que é equivocado e irritante) e me pus a conversar sobre a programação dos próximos dias com meus então futuros compadres. O casal acompanhava a mim e a mais dois ou três vagabundos naquela cervejinha básica de fim de tarde. Ocorre que a coisa descambou para aquele Bourbonzinho básico de começo de noite bem na hora em que Gislene (esse é o nome da comadre) havia descrito o roteiro com qual ela e Celso (esse é o compadre) haveriam de preencher a bonita e romântica data vindoura. Parque, algodão-doce, mãos dadas, cinema, pipoca, jantar, champanhe e vocês sabem muito bem o quê depois (essa parte a sapeca elidiu). Coisa natural, ela quis saber o que eu e minha amantíssima companheira faríamos na mesma efeméride:

- E aí, André, e você e a Vi, o que vão fazer?

Ao que respondi com insuspeitadas certeza e prontidão:

- Anal. A gente vai fazer anal.

Isso explica muita coisa, mas não explica como consegui casar-me, nem como essa boa gente aceitou apadrinhar uma união dessa natureza. Agora, já foi. Inclusive, informei à Jovem Esposa que, em caso de desistência, é inferno na certa. O padre explicou tudinho na hora da cerimônia e não me parece que caiba aí isso de se fazer de desentendida depois de ter jurado aquele montão de coisas bonitas. Tudo bem, a gente sabe, não existem riscos sérios. Mas não posso perder a piada.

De toda forma, estamos precisando de mais indicações para este ano. Acessem meu blog, cujo link está aí embaixo, e deixem as eventuais contribuições na área de comentários do post relativo à premiação deste ano. Eu sei, ninguém vai deixar nada lá. Mas a comissão, em 2008, está desesperada, porque parece que vivemos num tempo um tanto infértil e mal-humorado, meio suscetível e bastante bocó. Ou a gente reage, ou ele nos engole. À luta, seus borra-botas!


Nota do Editor: André Falavigna é escritor, tendo publicado dezenas de contos e crônicas (sobretudo futebolísticas) na Web. Possui um blog pessoal, ofalavigna.blog.uol.com.br, no qual lança, periodicamente, capítulos de um romance. Colabora com diversas publicações eletrônicas.

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