É dia de comemoração. Dona Almerinda, metida em um vestido florido, manda um sorriso generoso. A mesa, posta com organização, é farta. Dezenas de pessoas em volta, arranjos, uma mesa com presentes. É festa. O povo gosta, espalha simpatia pelo salão. Gente simples - a maioria ali mesmo do lugar, quase na roça de tão longe. São conhecidos uns dos outros conversando amenidades. Não vê rosto franzido, quase. A maioria parece estar bem, ali. A mesa tem de tudo um pouco. Biscoito com queijo, bolos, tortas, tudo bem feitinho, distribuído em cestas. Tem broa de fubá enrolada em folha de bananeira. A folha - explica uma das mulheres que trabalharam na cozinha - dá um sabor especial ao quitute. Basta provar para entender. Os homens reunidos nos cantos conversam sobre política, eleições no clube local, e só param para ouvir os oradores. Em dado momento, falavam sobre união, cooperação. Parecem mesmo depender uns dos outros. Eu não sou daquele lugar, nesse dia me sinto bem ali, como eles. Na verdade estava ali a trabalho, iria escrever um artigo sobre as comemorações, mas isso não faz diferença. A amizade sincera é algo admirável, dá gosto ver. Nesse dia presenciei muitos momentos assim, e foi bom. Faz bem à alma. Anunciam a chegada de um contador de histórias. Depois de um começo como todos os inícios, ele, aos poucos conquista o público, essa gente simples do lugar. Todos de olhos abertos no homem, ouvindo cada palavra sobre a história. O contador de histórias tem bom timbre, audível em qualquer canto do salão. O tipo de surpresa agradável, bem poderia ser alguém sem talento querendo aparecer. Mas não, foi uma apresentação profissional, e bem sucedida. No final, muitos aplausos. E depois, na despedida, incontáveis abraços, sorrisos. A volta para casa, no fim da tarde, foi mais leve - mesmo com a distância. O dia, de certa forma especial pelos momentos passados naquele lugar. Assim, um compromisso que poderia ter sido chato, acabou tendo sua graça. E resolvi passar para a frente. Nota do Editor: Marcos Alves é jornalista.
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