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SEÇÃO
Crônicas
10/11/2007 - 16h20
Dia dos Finados
Eduardo Oliveira Freire
 

O quartinho da pensão está um forno. Estou só de cueca. Estou morto, mas os meus familiares não levam nenhuma flor no meu túmulo e não sentem saudade de mim. A última lembrança que possuo deles: o velho desmaiado no chão, os meus irmãos socorrendo-o e a velha com um olhar insano urrava com a boca cheia de cuspe para mim: "Some daqui! Você morreu pra mim, desgraçado!".

Os irmãos lamuriavam preces e me olhavam com dor e acusação. Saí de casa, andei até os meus pés ficarem em carne viva, como o meu coração. Pensei em me suicidar, não tive coragem. Agora, estou vagando como morto vivo. O velho sobreviveu ao enfarto. Agora, ele e a velha moram com uma das minhas irmãs. Todos estão bem.

Uma vez, quis me aproximar, mas a cena daquele dia sempre me breca. Ninguém da minha família gosta de ver ex-fantasmas pairando ao redor depois de quase vinte e um anos. Eu rompi de um jeito com eles, que não existe mais volta. Caguei no pau feio, falsifiquei a assinatura do velho e peguei todo o dinheiro de economia de anos para viajar à Europa.

Lá a grana foi embora rapidamente, fiz bicos para sobreviver e os quais nunca pensara em fazer. Sempre fui um pobre fodido metido a burguesinho, tinha nojo de qualquer coisa, mas quando a fome aperta, a gente faz de tudo sem frescura. Economizei com sacrifício a passagem de volta, queria retornar para casa.

Ao chegar, vejo um caminhão de mudança. Uns homens pegavam os móveis. Entrei, o primeiro que me viu, foi o velho que correu em minha direção e me deu um soco no rosto, logo depois, estrebuchou no chão. Em meus pesadelos, vejo a boca enorme da velha cheia de cuspe e eu de guarda-chuva tentando me proteger...

Fiquei sabendo, por um amigo vizinho, que eles tiveram que vender a casa para pagar as dívidas e que iriam morar num pequeno apartamento cedido por uma tia. Dormi na rua neste dia, morri e esqueceram de me enterrar. Só arranjei um bico, porque um tio ficou com pena de mim e me empregou na sua livraria. Contudo, colocou um monte de câmeras para vigiar e escondido de mim mexia nas minhas coisas para ver se roubei o dinheiro do caixa.

No início me sentia chateado, no entanto, recordei de um ditado popular que a minha querida falecida avó dizia: "Fez a cama, agora deita". Eu era o neto predileto dela e a adorava. Em que cemitério que foi enterrada, mesmo? Lembrei! Vou ver se acho o seu túmulo.


Nota do Editor: Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, está cursando pós-graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor.

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