Tenho uma sugestão a fazer: dar a Petrobrás para os pobres e acabar com o Bolsa-Família! Pretendo sustentar minha proposta com números a seguir, mostrando como essa medida seria vantajosa para quase todos os brasileiros, excluindo apenas uns poucos privilegiados que abusam da condição de estatal da empresa. Em valores aproximados, o governo gasta algo como R$ 10 bilhões por ano com o Bolsa-Família, beneficiando cerca de 11 milhões de famílias. Supondo que esse gasto não irá sofrer aumento real, apenas acompanhando a inflação, podemos calcular seu valor presente através do fluxo futuro por uma taxa de desconto. Os títulos do governo com prazo mais longo, para 2045, oferecem um retorno real de aproximadamente 6,5% ao ano. Utilizando esta taxa, temos que o valor presente do gasto com o Bolsa-Família, partindo da premissa que ele não irá aumentar mais que a inflação, supera um pouco os R$ 150 bilhões. Em outras palavras: se o governo fosse aplicar uma quantia nos seus próprios títulos e usar o retorno para bancar o programa social do Bolsa-Família, seriam necessários esses R$ 150 bilhões hoje. A Petrobrás, por sua vez, tem um valor de mercado de aproximadamente R$ 370 bilhões, já considerando a alta das ações após o anúncio da "descoberta" de Tupi, o poço gigante. O governo detém, através da União Federal, 32,2% do capital total da empresa. Não vou levar em conta a participação expressiva que ele possui através do BNDES. O valor da parcela estatal na Petrobrás é, portanto, de aproximadamente R$ 120 bilhões. Ou seja, se o governo vendesse sua participação na empresa ao valor de mercado atual e aplicasse o montante todo nos seus próprios títulos, ele não seria capaz de pagar o Bolsa-Família "somente" com estes recursos. O Bolsa-Família custa mais para o governo do que a Petrobrás vale para ele! No entanto, a quantia que o governo realmente recebe como acionista da empresa por ano é bem menor, através dos dividendos. No ano passado, por exemplo, a Petrobrás pagou algo próximo a R$ 7 bilhões como dividendos, e a parcela do governo seria de uns R$ 2,2 bilhões. Supondo que este dividendo fosse mantido constante em termos reais, seu valor presente, descontado pela mesma taxa usada para o Bolsa-Família, seria de R$ 35 bilhões. Ou seja, se a Petrobrás não aumentar muito seus dividendos, o governo irá receber em dinheiro dela apenas um quarto do que gasta todo ano com o Bolsa-Família. Podemos dizer ainda: o governo necessitaria de 4 Petrobrás para bancar o Bolsa-Família através dos dividendos que recebe como acionista. Eis porque minha proposta faz muito sentido. O governo distribui suas ações na Petrobrás de forma igual entre todos os cadastrados no Bolsa-Família hoje, e anuncia o fim do programa Bolsa-Família. Como conseqüência, cada família irá meter a mão em quase R$ 11 mil imediatamente. Esse é o valor atual da participação estatal na empresa dividido pelos 11 milhões do Bolsa-Família. Esse valor corresponde a quase 150 meses de recebimento do Bolsa-Família, ou mais de 12 anos! Cada família pobre teria acesso a este capital para investir como quisesse, bastando vender as ações para quem desejasse comprá-las. Esta seria uma decisão individual. Se a Petrobrás é "nossa", nada mais justo do que cada um escolher o que fazer com a sua própria parte. No caso, o restante do povo abre mão da sua parcela para ajudar os mais pobres. Não é preciso apelar para o altruísmo para defender isso. A classe média ganha muito com essa medida também, pois o governo acaba com o Bolsa-Família, cuja burocracia custa caro, sem falar do foco de corrupção e da compra de votos. Além disso, a classe média já não vê a cor do dinheiro no fato da Petrobrás ser "nossa" mesmo, pois paga uma das gasolinas mais caras do mundo. Quem se beneficia da Petrobrás como estatal são apenas os políticos, que a utilizam como moeda de troca, os empresários corruptos, que fornecem produtos para a estatal pela amizade com o governo a preços super-faturados, os artistas "engajados", que recebem verba da estatal para fazer proselitismo, e os incompetentes burocratas, que não seriam aceitos nem como gerentes numa Exxon, mas assumem o comando da empresa por pura afinidade política com o governo. Além disso, o governo iria arrecadar muito mais dinheiro através de impostos, pois a Petrobrás privatizada teria uma gestão mais profissional e seria muito mais eficiente, como comprovam todas as privatizações já realizadas. O governo passou a receber muito mais em forma de impostos quando a Usiminas, CSN, Embraer, Telebrás e ferrovias passaram para as mãos do setor privado. Não há um único motivo para achar que seria diferente com a Petrobrás. Em resumo, minha sugestão seria benéfica para a grande maioria do povo brasileiro. Como os esquerdistas nacionalistas costumam apelar para a retórica de que "o petróleo é nosso", minha proposta não deixa saída lógica para eles a não ser aceitar, pois nada mais justo que o próprio povo assumir o controle da empresa diretamente. Esse controle só iria parar em mãos estrangeiras se o próprio povo assim desejasse, cada um votando diretamente com sua própria ação. Além disso, a retórica esquerdista de que os mais ricos devem sustentar os mais pobres também é atendida nesse caso, não deixando escapatória para a esquerda. Os "mais ricos" abrem mão de sua parte, doando toda a empresa para os mais pobres, hoje dependentes do Bolsa-Família. Como algum esquerdista terá a coragem de ser contra esta proposta? Vamos dar a Petrobrás para os pobres! Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC, trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e depois administrador de portfólio. Autor de dois livros: Prisioneiros da Liberdade, e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, pela editora Soler. Está lançando o terceiro livro sobre as idéias de Ayn Rand, pela Documenta Histórica Editora. Membro fundador do Instituto Millenium. Articulista nos sites Diego Casagrande e Ratio pro Libertas, assim como para os Institutos Millenium e Liberal. Escreve para a Revista Voto-RS também. Possui um blog (rodrigoconstantino.blogspot.com) para a divulgação de seus artigos.
|