- Bati! E dessa forma, os visitantes, Angelo e Magali, venceram mais uma partida de buraco de Paulo e Juliana, os anfitriões. Já era uma tradição o carteado entre os amigos no domingo à noite. - Ouviram isso? - perguntou Juliana. O barulho aumenta. A campainha toca. Os quatro assustados vão até a porta. Para a surpresa de todos, havia dois carros da polícia e aproximadamente 40 pessoas aos berros. - Quatro bandidos entraram na sua casa. - disse Geraldina, a moradora mais antiga e fofoqueira da rua. Paulo e Juliana residiam em um terreno com duas casas grandes. Moravam na da frente e deixavam a dos fundos aberta nos finais de semana. O policial intercedeu: - Estamos na captura de quatro elementos. Precisamos investigar seu domicílio. Paulo sem entender nada abriu a porta. Os policiais, eram cinco, entraram pelo corredor e viram marcas de sangue no chão. A mancha ficou mais forte na porta da casa dos fundos. - Se tiver alguém aí dentro, vocês prometem que não os matarão aqui dentro? - perguntou Angelo. - Fica tranqüilo, patrão. Três policiais entraram e dois ficaram na porta fazendo guarda, na presença dos quatro amigos, ainda atordoados. Após dez minutos de um silêncio quase sepulcral, saíram os policiais com os três bandidos algemados. O número de pessoas na rua havia dobrado. Quando viram os policiais trazendo os marginais começaram as manifestações. Geraldina era uma das mais animadas. - "Vamos acabar com esses vagabundos" ou então "Viva a polícia!". Passado o trauma, os quatro amigos foram limpar a casa dos fundos. - Vou pegar a vassoura e sabão - disse Juliana. - Engraçado, não vi ninguém machucado - estranhou Magali. - Não disseram que eram quatro bandidos? - questionou Angelo. - Já acabou pessoal. Vamos limpar logo essa sujeira e tentar esquecer isso - falou Paulo em tom imperativo. Os amigos se dividiram pelos cômodos. De repente, um grito. Era Juliana. Todos foram ao seu encontro e ficaram pálidos com a cena. Os policiais deixaram um dos bandidos na casa. E ele tinha um corte profundo na perna direita. Apontando uma arma para os quatro e gemendo de dor, o bandido ordenou: - Pelo amor de Deus, me ajudem! Já eram quase nove horas da noite e chovia muito. O bandido pediu o telefone celular de Paulo emprestado e ligou para um comparsa pedindo ajuda. Por volta das onze, o resgate chegou. Paulo e Angelo ajudaram o bandido colocando-o no carro. - Estou deixando dois sacos lá no quarto e amanhã venho pegá-los por volta das cinco da tarde. Obrigado por tudo. Angelo e Magali foram para casa. Paulo e Juliana tentaram dormir. Não conseguiram. Com uma pontualidade britânica, a campainha tocou às cinco horas. O casal, que não foi trabalhar, foi até a porta e tomou um grande susto. Junto com o bandido que ajudaram na noite passada, estavam mais três - os mesmo que saíram de sua casa algemados. - O que vocês três fazem aqui? - indagou Paulo. - Vocês sabem o que têm dentro dos sacos? - Não fazemos idéia. Ao verificar os sacos, o casal levou mais um susto - não o último do dia. Um estava cheio de munição de revólver e dois celulares. A outra bolsa estava cheia de notas de cinqüenta reais. - Nessa bolsa tem cinco mil reais. Como vocês acham que os três estão aqui e eu não fui preso ontem? Paulo agora entendia tudo. Os policiais demoraram a sair da casa, pois estavam negociando com o líder do bando. Ainda por cima, enganaram a todos fazendo aquela cena. Paulo sentia-se humilhado. Tinha ânsia de vômito. - Já sabemos quem nos entregou. Vamos cumprir nossa parte do acordo, pagando aos policiais o combinado. Estaremos sempre pela área. Caso precisem de algo, basta nos chamar. Paulo vomitou. O casal com medo da violência na cidade e sem saber em quem acreditar, procura uma casa no interior. Inutilia truncat(1) (1) Acabe com as inutilidades. Obs.: Esse texto é baseado em fatos reais. Nota do Editor: Vitor Orlando Gagliardo é jornalista.
|