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Crônicas
25/11/2007 - 09h15
A próxima chance
Nei Duclós
 

E se fosse o contrário, o Nilo como dádiva do Egito? E se as cheias periódicas depositando húmus para a lavoura não fossem obra do acaso, mas dos homens fartos do deserto? E se a grandiosidade do rio fosse o resultado de paciente e interminável trabalho de gerações que não queriam mais ficar à mercê da sede e da fome?

É possível que a natureza, tal como a conhecemos, e que está quase totalmente destruída, com suas cachoeiras deslumbrantes, cercadas por pedras lisas e horizontais estrategicamente colocadas para o deleite dos banhistas, tenha sido projetada por raças ancestrais. Elas moldaram montanhas, orientaram nascentes em direção aos leitos, que cavaram na areia, e assim levantaram não apenas pirâmides, mas florestas.

Seus vestígios estão por toda a parte. Taças gigantes de granito que se erguem em conjunto com enormes abóbadas ou arcos. Ruínas não-catalogadas, cheias de sinais extravagantes à espera de um Champollion. O que dizem traços, figuras, cenas, sinais gravados eternamente, cercando baías mansas, escondendo-se em cordilheiras indevassáveis, brotando em cerrados e planaltos? Foram os índios, ou isso é obra da chuva, dos ventos e do tempo, dizem os acadêmicos céticos. É a Atlântida, dizem os sonhadores empedernidos.

Descobriram há pouco tempo enormes estruturas quadradas no chão do Acre desmatado, formadas por canais, que se repetem por quilômetros. A verdade é que a abundância dos vestígios é assimilada de maneira tosca pela escassez das teorias. Nada temos a descobrir nas pedras empilhadas do litoral e interior, nas esfinges que grudam em costões ou pontuam paisagens no ermo. Tudo está catalogado como mistério intransponível e qualquer especulação é recebida com bocejo ou gargalhada.

Acostumados a esse tipo de tratamento, alguns estudiosos de fôlego maior continuam com suas descobertas e, para não assustar os leigos, circunscrevem esse tesouro a espaços temporais conhecidos ou a idéias rudimentares e mansas. Mas no fundo eles sabem. Habitamos a terra lavrada pelo gênio dos antigos, de tal maneira que toda a natureza se voltava para a sobrevivência. Fizeram do habitat um lugar aprazível, já que cansaram de serem chicoteados pelas tempestades, terremotos e nevascas.

Para se defenderem, imitaram o Criador. Ou seja, no planeta bárbaro geraram o Éden, com suas águas providenciais, os bichos sob controle, o clima favorável. Dizem que a Ilha da Páscoa se transformou num deserto pela falta dos seus habitantes, que destruíram os insumos para persistirem vivos. Ou que antes da Amazônia tínhamos o deserto. E que antes do Saara, tínhamos a floresta. Na tentativa e erro, as populações ergueram e destruíram suas obras que se confundiram com a natureza.

Tudo é obra do homem e sua loucura. Estamos cercados por planetas inabitáveis. Fomos também assim e nos dirigimos para esse destino. Herdamos o paraíso e acabamos com ele. Sentimos saudades do trabalho de fazer brotar a flor provisória, a árvore imortal, a cascata em forma de véu de noiva. Perdemos a pista de como se faz. O único caminho para resgatar esse saber será, parece, acabar com tudo. Nus diante do horror, teremos que recomeçar.

Não será fácil. Já tivemos nossa chance. Haverá uma próxima?


Nota do Editor: Nei Duclós é autor de três livros de poesia: "Outubro" (1975), "No meio da rua" (1979) e "No mar, Veremos" (2001); de um romance: "Universo Baldio" (2004); e de um livro de conto e crônicas: "O Refúgio do Príncipe - Histórias Sopradas pelo Vento" (2006). Jornalista desde 1970 e formado em História.

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