O presidente Washington Luiz dizia que governar é abrir estradas. A seu tempo, de um Brasil sem infra-estrutura, ele tinha toda razão. Era um estadista. Hoje vemo-nos governados por argentários medíocres cujo lema é bem outro: governar é arrecadar. Os contribuintes são roubados de todas as formas, sobretudo rouba-se sua dignidade, o seu tempo e a sua paciência, obviamente além do seu dinheiro. Quanto um governo sensato de São Paulo - prefeito ou governador, não importa - pagaria para destravar o trânsito da capital? Quanto o contribuinte paulistano pagaria para ter o tráfego de veículos com fluidez? Muito. Quem mora aqui sabe o custo de se ficar horas e horas parado ao sol, sem andar nadinha, mais das vezes sob uma placa irônica a estabelecer um limite máximo de velocidade. Quanto custa para as pessoas, para São Paulo e para o país um dia de caos no trânsito? São negócios desfeitos, consultas médicas adiadas, cirurgias impossibilitadas, empregos perdidos, trabalhos não realizados. Prejuízos elevados e mesmo mortes acontecem por causa do caos no trânsito. A produção perde muito do seu vigor. As perdas são incalculáveis. Até mesmo aquele encontro ansiado com a pessoa amada não se realizou e o beijo não dado jamais será recuperado. Quem perdeu o beijo o fez para sempre. Isso não tem preço. Dia 22/11 São Paulo parou vítima desse afã arrecadatório de nossos governantes argentários, maus governantes. Dezenas de blitz a parar os veículos na suposta disposição do governo paulista de combater a evasão do IPVA. Obviamente que a ordem de parar São Paulo foi insensata e absurda e penso que algum procurador de Justiça deveria denunciar esses maus governantes. Deve haver algum pretexto legal que puna o abuso de poder e a incompetência no seu exercício. O fato é que nossos governantes, muito espertos, elevaram além dos estados vizinhos a taxa do tributo e querem que todos os patos contribuintes declarem sua residência aqui. Ora, se alguém pode fugir do esbulho tributário por ter outro endereço alhures é lícito que o faça. Mas nossos governantes argentários não pensam assim. A mega blitz tinha o objetivo de identificar esses supostos sonegadores. Pelo que a imprensa noticiou foram pegos somente os veículos das empresas locadoras, que obviamente têm sua sede nas capitais sensatas de menor alíquota e estão rigorosamente dentro da lei. Os argentários falharam no seu intento, conseguiram apenas infernizar a vida de todo mundo. Pergunto-me se não ocorreu a quem deu essa ordem estúpida a desproporção entre suposto bem a obter, o aumento da arrecadação, com o mal efetivamente praticado, o mal-estar geral. Redução de produtividade, perda de qualidade de vida, sensação de que se é objeto de arbítrio desmesurado dos governantes, foi isso que aconteceu. Foi o que muita gente sentiu. Ronaldo Marzagão, secretário de Segurança, disse à Folha de São Paulo que os bloqueios vão continuar. Como é possível alguém ocupando um cargo dessa envergadura seja tomado por tamanha cegueira? Não tem noção da realidade que o cerca, um pingo de sensatez? Como é possível sacrificar-se toda a população para atingir uma fração mínima da mesma que eventualmente esteja em desacordo com a lei? Será que o bem-estar da coletividade não deveria vir em primeiro lugar? O governador José Serra deveria olhar o calendário eleitoral. Motoristas parados no trânsito por conta de um auxiliar incompetente não vão esquecer-se da determinação do Sr. Mazargão. E do seu chefe. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP.
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