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COLUNISTA
Ernesto Cardoso
29/11/2007 - 11h15
Impressões de uma viagem
 
 

Uma visita ao Primeiro Mundo deixa impressões profundas e preocupantes quanto aos destinos de nosso país. Somos, em comparação com a maioria desses países, um país novo que poderia atribuir à sua idade a enorme distância que o separa, sob muitos aspectos, dos países mais avançados. É falsa, todavia esta premissa, pois, outros países de colonização e independência comparáveis ao nosso figuram no primeiro escalão mundial - Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia.

A era moderna em que nos inserimos, a partir da revolução industrial no século dezoito e do posterior avanço da ciência, da tecnologia e do conhecimento das Ciências Sociais, em especial da que trata da "Riqueza das Nações" - a Economia e seus instrumentos, permitiram a esses países um desenvolvimento que a nós não chegou por inteiro, a despeito de todos os recursos naturais que o Brasil ostenta. E daí, provavelmente, já surge nossa primeira diferença, pois, continuamos a confundir recursos naturais com riqueza econômica. Conscientes de que só pelo trabalho qualificado e uso de abundante capital financeiro e social, recursos naturais deixam seu estado inerte para se transformar em forças dinâmicas do progresso, esses países, ao longo de sua história, demonstraram maior capacidade de ação, maior descortino econômico e pragmatismo no trato desta questão.

Em abordagem que já fizemos sobre a influência da cultura e seus valores no desenvolvimento das sociedades, não há como desprezar o valor relativo deste fator no progresso extraordinário de umas e na estagnação e retrocesso de outras. Analisando esta questão com neutralidade, temos de consignar que a nossa cultura não ostenta boa parte dos valores culturais que alavancaram o progresso dessas nações. Max Weber, o sociólogo alemão, em seu "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", assinalou muito bem o valor que teve a consciência individual, quando o cidadão assume a crença de que Deus abençoa aos que demonstram, por seu esforço, os frutos do trabalho; ele assinalou no Protestantismo histórico, analisado entre os colonizadores da América do Norte, especialmente no Calvinismo, o valor da parcimônia no uso e na acumulação da riqueza, o valor do empreendedorismo e seu retorno na assunção do risco inerente, e o fato contrastante de que a riqueza adquirida, desta forma, era considerada uma benção divina e não uma situação de constrangimento, pois, não advinha de forma desonesta.

Em nosso país, a falta desse dinamismo e visão filosófica (religiosa), conforme Weber o analisa, associado à crônica letargia de populações inteiras que crêem no fatalismo, ao misticismo religioso, à histórica e perene malversação dos recursos públicos, bem como, ao nosso reconhecido diletantismo nas letras, mas, insignificante nas ciências e no trabalho produtivo, poderiam explicar, em grande parte, nosso atraso.

O mais preocupante é que a menos que nossa cultura seja profundamente modificada e seus valores alterados, nossa distância dos mais desenvolvidos será cada dia maior em razão da produção, em ritmo jamais visto, de novos conhecimentos e do adestramento dos respectivos recursos humanos em seu uso e aplicação produtiva. Não será o Estado que nos levará a esse patamar.

A despeito do avançado estágio de desenvolvimento, algumas sociedades do primeiro mundo enfrentam, atualmente, novos desafios, colocados pelo próprio estágio mundial de progresso econômico, social e político e que se não forem resolvidos a contento, poderão retardar seu progresso futuro.

A França é bom exemplo da transição que alguns desses países ainda terão de fazer para se manter no topo da liderança mundial. Em síntese, trata-se da busca da máxima eficiência e utilidade do setor público na prestação de seus serviços à sociedade e da máxima produtividade e lucratividade do setor privado na produção de seus bens e serviços.

O setor privado, se deixado desenvolver-se no âmbito de uma economia moderna de mercado, constrangida por leis e regulamentos que a mantenham civilizada, é tudo que necessita para ajustar-se a esses novos paradigmas da economia mundial. O setor público, todavia, terá de sacudir o peso da ineficiência acumulada de longas épocas, de desperdícios não mais toleráveis, de ajustes sociais e fiscais ditados por leis inamovíveis da ciência atuarial e da igualdade de todos perante a lei. Terá de ajustar seus interesses minoritários e vantagens discrepantes aos reais interesses de toda a sociedade, algo muito parecido com o que temos de fazer, mas, há anos estamos deixando de fazer.

É isto que o Presidente recém empossado da França começa a discutir com o povo francês e de cujo sucesso dependerá o futuro desse grande e magnífico país. A sociedade como um todo deve fazer prevalecer seus interesses maiores e isto pode levar a confrontos com as minorias privilegiadas, como os havidos recentemente em Paris onde, pelo uso da força de seus instrumentos de trabalho, tentaram impor suas discordâncias particulares e discrepantes.

O exemplo da Inglaterra que pelas mãos da sua extraordinária ex-Primeira Ministra, a cognominada "Dama de Ferro" - Margareth Thatcher que por cerca de 11 anos enfrentou e venceu a luta por reformas sociais e econômicas necessárias para libertar o país das amarras do atraso, é exemplo a ser analisado. A Inglaterra, em meio ao continente europeu, ostenta hoje situação única e invejável de enorme progresso e estabilidade social que a tem levado a repensar com cautela o pleno ingresso na União Européia com a adoção do Euro em substituição à sua Libra Esterlina - símbolo de seu poderio econômico. Outros países europeus estão alcançando níveis de desenvolvimento significativos graças às mesmas reformas. A Espanha é outro exemplo marcante, pela sua longa história de estagnação e pobreza e o atual surto fantástico de desenvolvimento, progresso, modernidade e acúmulo de riqueza. Até o pequenino Portugal já participa com suas empresas multinacionais em atividades comerciais de além mar. Note-se sua participação na prospecção do campo petrolífero de Tupy, em conjunto com a Petrobras e outros investimentos em nossa telefonia e outros setores.

E nós aqui? Onde estão as mesmas reformas que deverão tornar o país capacitado a um desenvolvimento mais rápido e mais duradouro? Lamentavelmente, estamos substituindo o pragmatismo inteligente por ideologia retrógrada, o estadismo pelo populismo, geralmente dito "barato", mas, aqui, muito caro, a ponto de faltar recursos para o progresso dinâmico do país, desviados para a manutenção de uma política, dita social, mas, apenas, tranqüilizante, sedativa, antifebril.

Quantos recursos e quanta pobreza! E ainda se pretende transformar nossas deficientíssimas escolas em "ghettos" religiosos, após décadas de prudente e sábia separação constitucional entre Igreja e Estado. Se às escolas coubesse dar ensino religioso, às igrejas caberia dar o que? (vejam-se as negociações e imposições desejadas nas negociações em curso entre o Vaticano e o Governo brasileiro).


Nota do Editor: Ernesto F. Cardoso Jr. é Economista (UERJ) e MBA (Univ. of Pittsburgh, EUA).
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