Descer sem resistências pela derrota de uma vertical, sem pretender a salvação nem fazer da ruína espetáculo de masoquistas. Aceitar a queda, aprender na pedagogia da queda o anonimato e a desimportância. Cumprir a desimportância até o irredutível desamparo do silêncio, onde nada ousa, sequer o aplauso mínimo. Nenhuma necessidade de aplauso, mas algo maior: respeito pela estatura da dor. Deixar-se, então, esmagar até não haver mais Deus. Nenhum alento à tua humana ladradura. E ninguém, afinal, para te arrebatar, quando à beira do precipício! É a hora do berro, do grotesco urro da metamorfose. Aí, vais te salvar, vais te salvar, porque a asa nasce na queda. Aprenderás, então, a voar acima, muito acima, de tudo o que um dia perdeste. Nota do Editor: Daniel Santos é jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de O Estado de S. Paulo e da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro, além de O Globo. Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.
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