Contos da Mula Manca
A Mula Manca (MM) acha que Aguinaldo Silva, vítima do Ibope, ditador máximo da televisão brasileira, que o acusa de não atingir mares já dantes navegados em números referentes ao horário nobre da Globo, não é culpado de nada. Não que Duas Caras seja uma maravilha - não vi e não gostei. Duas Caras, pelo pouco que acompanho da polêmica nos jornais, é apenas chata, como são chatas todas as novelas brasileiras, alienadas, bobocas. Antes, como notou um queridão que me acompanha até em horário de novela, só havia a Globo. Hoje o telespectador tem nos mesmos horários, que foram cultivados como horário de novela pela então onipresente emissora, duas ou mais bobagens feitas pela concorrência com os mesmos ingredientes que ela usa. Dá para escolher, uns vão gostar mais das coisas da Record, outros fecham com os dramalhões mexicanos sem nenhum tipo de som ambiente - a pior coisa das novelas do SBT é que os personagens se movem em um mundo absolutamente mudo, no qual só se ouvem as vozes dos dubladores, é tão jeca que fica hilário. Até a Bandeirantes está pondo as manguinhas, ou melhor, os pezinhos de fora com um treco chamado Dance, Dance. É normal então que eles tirem audiência da que até então reinava absoluta. Eu, com o risco de me acharem esnobe, continuo achando duro de assistir. Qualquer dúvida comparem com o maravilhoso cinismo de alguns seriados americanos - eu cito de cara Will and Grace e Two and a Half Man. No primeiro, um gay mora com a melhor amiga em um cenário onde não falta incorreção política envolvendo basicamente o universo gay de Nova York, sem nenhum perdão. O outro é um publicitário misógino, mulherengo que só pensa naquilo e vive de ressaca, vivido pelo adorável Charlie Sheen (sou louca por ele, devo confessar), que ainda por cima vive dando exemplos de sacanagem ao sobrinho que mal completou doze anos. Imaginem que a novela brasileira mal saiu do preto no branco - com perdão do trocadilho - que o grande drama gay é se beija ou não beija? Ora, tenha dó. Agora, se o Aguinaldo Silva é culpado de alguma coisa é de leseira. Não é que ele alegou para não ir para Portugal, além de ficar defendendo as cores da novela etc. etc. que só notou que o passaporte estava vencido em pleno aeroporto? Se fosse possível realmente acontecer uma idiotice dessas, fosse comigo, por exemplo, juro que ficaria calada para não passar tal recibo. Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra. É autora do livro "Os florais perversos de Madame de Sade" (Editora Rocco).
|