Éramos três. Um dia como tantos outros, nem mais, nem menos. A noite se aproximando, cada um procurando algo para fazer, alguém para fazer algo. Pessoas telefonando, buscando estímulos excitantes, parceiros reais, virtuais, imaginários, qualquer coisa para preencher o vazio que ecoava e não queria calar.

Eu, quase sempre na contramão mundana, queria estar em contato com meu universo particular e com aqueles que fazem parte dele: meus caros amigos de longa data, aqueles que me conhecem mais do que minha imaginação permite alcançar. Um olhar deles em minha direção é quase uma "fotografia da alma", mentir para eles seria um desastre, como enganar a mim mesma. É incrível como há pessoas com as quais existe uma conexão tão profunda, aberta, honesta, limpa. Quem nunca experimentou essa sensação não deve conhecer o valor da verdadeira amizade.

Fomos para um bar movimentado, pessoas aparentemente felizes, um som alto, muito ruído e, óbvio, introspecção em um local como esse, sem chance. Só eu para querer interiorização em um sábado à noite, que mulher difícil, acho que não conheço muita gente com tal característica. De repente olhei para o fundo, e eis que surge o cenário perfeito: em harmonia singular, a cerejeira, linda, enfeitava o jardim com algumas mesas vazias, à espera daqueles que buscavam o diferencial. Mais ao fundo, à meia-luz, um pequeno espaço com outras mesas, onde fomos nos proteger da chuva. Perfeito, cinematográfico.

A conversa fluía com muita naturalidade, os assuntos, os mais variados. Meu amigo falava a respeito de um cantor de uma banda famosa e respeitada com uma intimidade que me deixava perplexa! Emendávamos um tema com outro, e já não sabíamos onde tudo havia começado. Minha amiga me aconselhava a respeito de rancores e mágoas, elementos tóxicos que nos deterioram e não valem a pena ser cultivados. Nesse vaivém de palavras, me senti acolhida e em contato comigo mesma. Repleta de amor, em uma troca salutar. Bonito demais. Simples assim.

Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista.