O Senado teve mais um dia de “função” – pois ganhou contornos circenses – ao julgar mais uma vez o senador Renan Calheiros que, durante o vergonhoso espetáculo, renunciou à presidência, donde estava licenciado. Sabia-se previamente da absolvição, mesmo diante da existência de um relatório que pedia veementemente a sua cassação. E desta vez a margem de votos foi ainda maior que no “julgamento” anterior. Algumas falas foram significativas no decorrer da sessão, como a do respeitado senador Pedro Simon (PMDB-RS), que reclamou do Senado transformado em "balcão de barganha" (o caso de Renan em troca da CPMF), e a do senador Paulo Duque (PMDB-RJ) que, ao defender Renan, lançou publicamente a dúvida sobre a cumplicidade de seus pares, afirmando não serem “anjos”. A sessão terminou como começou, numa verdadeira encenação, pouco avançando na solução do inexplicável entrave político que o caso provoca desde a sua eclosão, em maio. Sua agonia política seguirá no Judiciário e, muito provavelmente, continuará contaminando o processo parlamentar, mesmo tendo deixado a presidência. O encaminhamento da crise Renan Calheiros chega a ser impatriótico na medida em que leva problemas pessoais de um político a travar o funcionamento da mais alta casa legislativa do país e à própria administração pública, na medida em que não se discute e vota as leis propostas pelo Executivo. Para evitar que episódios dessa natureza se repitam, o ideal seria a adoção de leis e procedimentos que afastassem sumariamente de seus cargos todos os envolvidos em escândalos, com a alternativa de poderem voltar e cobrar reparação de quem de direito, se conseguirem comprovar sua inocência. Com esse procedimento, a crise ficaria restrita a um indivíduo e a instituição se manteria a salvo, cumprindo suas finalidades. A outra providência que os senadores ensaiam adotar, mas à última hora sempre recuam, é a eliminação do voto secreto, atrás do qual podem se esconder o tráfico de influência, a impunidade e até as possíveis negociatas. Em vez de secreto, pelo bem do Brasil, o voto de todo parlamentar, de senador a vereador, deveria ser aberto e justificado. Dessa forma, todos agiriam criteriosamente e o eleitor ficaria sabendo como votou o seu representante. Ele não poderia mais votar de um jeito e dizer que votou de outro! Pelo conjunto dos discursos e entrevistas – inclusive do próprio Renan Calheiros - produzidos ao longo da crise, especialmente nas proximidades das votações, resta ao povo a sensação de que o senador alagoano se mantém porque deve conhecer o rabo-de-palha de muitos de seus pares e de outras figuras de alta relevância na República. Se for real, isso é muito mau para o país cuja população, de 170 milhões de habitantes, fica à mercê do mau caráter de algumas poucas raposas que, indevidamente, tomam conta do galinheiro político. Independente de cassar ou não o mandato de Renan, urge que o Senado Federal tome todas as providências para a conclusão dos questionamentos. Não pode o monturo político continuar, por mais tempo, prejudicando a vida nacional... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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