No meu trabalho com casais e famílias, ressalto, a todo instante, a importância da convivência familiar. O homem é um ser eminentemente relacional e o primeiro espaço de sua socialização é na família.

Nesse arcabouço afetivo é que se aprendem os valores morais, sociais, crenças, mitos, a guardar segredos, desenvolver a espiritualidade, respeitar os mais velhos e finalmente brigar pela permanência da família unida. É na família que desenvolvemos nossa auto-imagem e auto-estima e isso se dá por meio da percepção de quanto e como sou amado e aceito pelos meus avós, pais e irmãos, ou seja, todas as pessoas que são significativas. A internalização deste amor e desta aceitação faz com que a conquista do mundo, que está lá fora, não pareça algo tão impossível.

Agora que estamos próximos do Natal e da passagem do Ano Novo, é época de falar de família, de estar em família. É muito comum, por exemplo, muitas pessoas aproveitarem o Natal para fazer reparações, desfazer as mágoas e recuperar laços afetivos rompidos. Na visão profissional, estas vivências devem ser elaboradas com muita sinceridade. Sabemos o quanto é difícil uma pessoa perceber sua responsabilidade nos erros do dia-a-dia - um indicador de crescimento e maturidade emocional.

O Ano Novo é visto como o momento de renovar as esperanças. Porém, acredito que o melhor seja refletir sobre projetos individuais e familiares que estamos desenvolvendo. Pergunte a si mesmo: "Eles realmente fazem sentido de vida para nós? Ou são apenas projetos que atendem a sociedade automatizada e geradora de valores culturais que privilegiam status econômico e social e nos influencia a ir buscá-los a qualquer custo?"

Os nossos projetos de vida têm de ser compatível com àquele desenvolvido junto à nossa família - a primeira oficina de aprendizagem. É lá que desenvolveremos nossas habilidades que, posteriormente, serão convertidas em competência profissional.

O apresentador Jô Soares disse em entrevista à Revista Veja (número 44, de 7/11/2007) exatamente isto:

VEJA - Quando você descobriu que era engraçado?
JÔ - Quando mamãe começou a rir, claro.

VEJA - Mamãe não vale, porque tem obrigação de achar seu filho uma graça.
JÔ - Mas mamãe e papai valem, sim. Acredito que todos temos roteiros de vida que são traçados muito cedo, num plano mágico até. Eu comecei a falar tarde. Mamãe, que me teve com 40 anos, o que na época era considerado um absurdo, achava que, veja só, coitadinho, nasceu com problemas. Um dia, no berço, do lado dela, comecei a jogar a lata de talco no chão uma, duas, três vezes. Na quarta, quando ela se virou brava para mim, eu finalmente abri a boca: "Caiu!". Todo mundo achou lindo. Daí vi a utilidade daquilo. E comecei a usar.

O grande pensador da psicanálise, Sigmund Freud, afirmou que "Todo ser humano procura sempre ser amado e ser aceito". Talvez, a festa do Natal e da passagem do Ano Novo seja uma forma inconsciente de sabermos o quanto somos importantes para nossas famílias e nossos amigos. Essa é uma reflexão que possivelmente tenhamos de fazer pelo resto de nossas vidas. Você tem dúvida?

Nota do Editor: Sebastião Alves de Souza é biólogo e psicólogo clínico, área na qual trabalha há quase vinte anos. É mestrando em Gerontologia pela PUC/SP, especialista em Terapia Familiar Sistêmica Breve e pesquisador do Núcleo de Pesquisa e Estudo da Família (PUC/SP). Souza é membro da APTF - Associação Paulista de Terapia Familiar - e consultor de empresas na área de saúde educacional. É sócio da Vinculovida, empresa que atua em dois âmbitos distintos: com consultoria, assessoria e treinamentos para organizações de diferentes áreas e portes e com cursos de formação terapêutica.