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Opinião
13/12/2007 - 17h06
A greve (de fome) e a sede do sertanejo
Dirceu Cardoso Gonçalves
 

O “prato-espetáculo” político a ser servido aos brasileiros nos próximos dias é a badalada greve de fome que d. Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra (BA), faz contra a transposição do Rio São Francisco. O religioso diz que só voltará a se alimentar quando a obra parar e o governo afirma que não pára a obra. Artistas e outros aproveitadores de plantão, que vivem sob ar-condicionado no “sul-maravilha”, já foram lá para dar seu apoio e, evidentemente, tentar amealhar algumas lasquinhas da briga. Desgraçadamente, no Brasil, muitos ainda vivem desse expediente!

É de se supor que o padre só tenha recorrido à auto-destruição depois de esgotadas todas as possibilidades de diálogo e de, ele próprio, ter se convencido de que a transposição não é a solução para a seca da região, fenômeno que tem enriquecido tanta gente e servido de muleta para políticos e exploradores.

Todo brasileiro dos últimos cem anos cresceu ouvindo falar da seca do nordeste e da necessidade de eliminá-la. Não foram poucos os políticos que se elegeram empunhando essa bandeira. Até um órgão pontual foi festivamente montado, desmontado e recriado – a Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) – e muitos escândalos registraram-se por conta da seca que, segundo registros históricos, emagrece o povo e engorda os coronéis.

A perenização de rios menores através do bombeamento de águas do caudaloso São Francisco é uma proposta discutida há décadas. Desde o começo contou com a oposição das empresas energéticas que usam a água do “velho Chico” em suas usinas. Enquanto a transferência estava apenas no papel, formaram-se opiniões tanto favoráveis quanto contrárias. Depois que o governo decidiu agir, surgiram os entraves judiciais e exageros, como a greve de fome, que apesar dos holofotes que rende, nem sempre atendem aos reais e seríssimos interesses do sertanejo, vítima da inclemência climática.

Que a seca nordestina precisa de solução, todos concordam. Mas as posições políticas, questões regionais e até os interesses subalternos levam muitos a engajarem-se em movimentos radicais, que atendem aos interesses de segmentos, tanto de um lado como de outro, mas não os da população sedenta. Em vez de o padre estar em greve de fome e o governo irredutível na sua posição, o que deveria ser transmitido à sociedade, com a urgência que o caso requer, é a certeza de que o projeto de retirar água de um lugar para abastecer o outro atenderá (ou não) às carências regionais.

As lideranças da região que não estiverem comprometidas com o coronelismo, o caciquismo ou com a política menor de alguns segmentos religiosos, mas alinhadas com a causa regional, têm a obrigação de forçar o debate e, se necessário, requisitar o conhecimento de especialistas desengajados da política regional para oferecerem pareceres tecnicamente isentos. O povo – tradicional massa de manobra e grande vítima de toda intolerância e politicagem – não pode ficar à mercê dos interesses de grupos quando o que lhe interessa é resolver o seu problema, pouco importando de onde venha a solução.

Além de dezenas, talvez centenas, de técnicos respeitados existentes na própria região, o Brasil ainda dispõe de estruturas acima de qualquer suspeita como o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) de São Paulo e outras entidades de alto conhecimento espalhadas pelo território nacional, distantes das questiúnculas e interesses nordestinos, que poderão oferecer o esclarecimento e a segurança necessários ao projeto. E se, ainda assim, essas entidades forem insuficientes, existem outras, no exterior, mais descomprometidas ainda, que poderão ser consultadas.

O que não pode é o sertanejo nordestino, mais uma vez, ficar prejudicado pelos coronéis e interesseiros de plantão que historicamente fazem a miséria daquele povo...


Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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