Quando o tema é infecção hospitalar, vigilância e conhecimento levam ao diagnóstico e tratamento corretos, evitando a progressão do quadro. Prevenir é fundamental
Infecção hospitalar, levado ao pé da letra, é uma antítese. Se o paciente apresenta uma infecção, é no hospital que encontrará o tratamento. Mas quando é no hospital que o paciente contrai uma nova doença, o conceito de saúde e doença se mistura de forma assustadora. No Brasil, a taxa de infecções hospitalares é de 15,5%, frente à média mundial de 5%, segundo dados do Ministério da Saúde. De onde vêm essas infecções? De um dos maiores inimigos do homem. São microrganismos, seres invisíveis ao olho nu, mas que provocam 45 mil óbitos por ano das 12 milhões de internações registradas no País. As bactérias são os principais agentes causadores dessas infecções. Os temidos vírus são menos freqüentes no ambiente hospitalar, ocorrendo com maior prevalência na comunidade em geral. E há os fungos, patógenos com predileção por acometer pessoas que já estão fracas e debilitadas por conta de algum problema de saúde. "Qualquer paciente internado pode ser acometido por infecção hospitalar. Pacientes criticamente doentes, como os internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ou que apresentam baixa defesa (imunodeprimidos), são os mais susceptíveis", explica Clóvis Arns da Cunha, professor de Infectologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Há algum tempo se ouve falar de superbactérias, que são resistentes ao arsenal medicamentoso existente e que podem levar uma pessoa à morte. O uso indiscriminado de antibióticos, o diagnóstico incorreto, a prescrição errada e doses inadequadas são fatores que colaboram para tornar as bactérias cada vez mais resistentes aos medicamentos existentes. Como o hospital é um local que reúne as pessoas imunodeprimidas - mais susceptíveis às infecções -, é também um lugar ideal para o surgimento dessas superbactérias. Há alguns tipos de patógenos que circulam apenas no ambiente hospitalar. Outros que historicamente apareciam exclusivamente nesses locais estão começando a se aventurar pela comunidade, provocando infecções que até então só aconteciam no ambiente hospitalar. "Portanto, podem ocorrer mudanças no perfil de bactérias comunitárias e hospitalares, demonstrando que elas têm a capacidade de se adaptar rapidamente e criar mecanismos de resistência para sua sobrevivência", explica Arns, que é também infectologista do Serviço de Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas da UFPR. O fato de as bactérias estarem se adaptando às armas medicamentosas disponíveis dificulta o diagnóstico preciso de infecções hospitalares. À sombra das superbactérias estão os fungos. Esses são patógenos menos prevalentes, porém tão letais quanto suas "primas" bactérias. Os fungos também podem provocar infecções hospitalares graves, principalmente em pacientes imunodeprimidos. Mas podem passar despercebidos. "Um dos passos mais importantes para o médico ter sucesso no tratamento de infecções hospitalares é diagnosticar qual é o patógeno que está provocando o quadro, seja bactéria ou fungo", diz Arns. Uma vez que esse patógeno for descoberto, é possível fazer exames em laboratório para orientar o médico sobre qual é a melhor conduta a ser tomada. Não é incomum acontecer de um paciente entrar no hospital com um problema e ter seu quadro agravado por uma infecção hospitalar. "Nesses casos, os medicamentos disponíveis salvam inúmeras vidas de pacientes acometidos por infecções hospitalares no Brasil", explica o infectologista. Alguns sinais clínicos, como febre, aumento da freqüência cardíaca e respiratória, e alterações na contagem das células do sistema de defesa são os primeiros indícios de uma infecção hospitalar. "As infecções fúngicas são mais difíceis de serem diagnosticadas. Isso acontece porque os métodos laboratoriais atualmente disponíveis não permitem diagnosticar muitas delas", informa Arns. Uma vez que o diagnóstico e o tratamento podem ser difíceis, uma estratégia seria prevenir as infecções hospitalares. "Um dos pilares para diminuir a incidência desse tipo de infecção é a higienização das mãos com água e sabão ou por meio do uso de álcool", explica Arns. "Essa medida é simples e altamente eficaz, e deve ser realizada não só pelos profissionais de saúde, mas também pelos parentes e amigos que visitam pacientes nos hospitais." Embora o médico reconheça que nos últimos anos o controle e a vigilância das infecções hospitalares no Brasil evoluíram, ainda há muito que fazer. "O mais importante para continuar evoluindo é a constante vigilância e a educação continuada dos profissionais", diz Arns. "Algo tão simples como a higienização das mãos pode salvar várias vidas todos os dias."
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