Contos da Mula Manca
Depois de uma falseta do destino, um qüiproquó boboca acontecido entre ela e o último titular da pasta, minha amiga loura está solteira. Para quem não sabe, a loura, uma das melhores amigas da Mula Manca (MM), é uma garota esperta e espevitada, que tem aproveitado os novos tempos para pensar bobagens. Não é que ela pense propriamente bobagens e muito menos precise de tempo livre de namorado para atuar nesse quesito. É que ela tem um jeito muito particular de ver o mundo e uma das coisas que me encantam nessa amizade, além de seu bom-humor, são os lados cômicos que consegue ver nas coisas mais banais. Ainda ontem, por exemplo, a loura me ligou para dizer que o silicone tinha diminuído os seios dela. Fiquei tão passada com o tamanho do non sense que não tive o que dizer. Como todo mundo sabe, silicone é matéria para encher, não para diminuir. E a loura tem o peito como marca registrada, jura que é de verdade, que nunca cirurgião-plástico chegou perto - esse sujeito mesmo com quem ela estava chegou junto para perguntar se tinha silicone, a loura ficou tão furiosa que acabou fazendo uma demonstração e jura que passou com louvor. Mas como esse não é o assunto agora, meus queridos e escassos leitores, vou tentar reproduzir o papo dela: "Quando eu era adolescente a onda era de seios pequenos, sonhava em operar para diminuir, minha mãe que é mais esperta que eu não deixou. Depois com a mudança da moda o mundo chegou até a mim, fiquei bacana, virou grife ter peitão. Hoje, muita gente diz que não tenho tanto seio assim, o que houve?" Ela mesma respondeu, fazendo um certo suspense, como lhe é habitual. "Acontece que com esse festival de silicone que inunda a nação, as mulheres ficaram peitudérrimas. Os meus então ficaram menores, não encolheram, não caíram, nada disso, apenas o padrão de comparação mudou. O que era grande antes, perto dos naturais, hoje é visto de outra forma. Nesse andar da carruagem, como o festival de peito inflado por silicone cada vez aumenta mais, vou acabar ficando é despeitada, com todo respeito". Meu coração generoso perdoou o infame trocadilho. Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra. É autora do livro "Os florais perversos de Madame de Sade" (Editora Rocco).
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