O mais renitente argumento dos que criticam a greve de fome de D. Cappio, em protesto contra a transposição das águas do Rio São Francisco, é a interpretação de que o bispo estaria cometendo um pecado, pois para a Igreja o corpo de um cristão é o "Templo do Espírito Santo", e colocar o próprio corpo sob privação ou risco de morte seria heresia. Puro sofisma! Se preservar o corpo fosse mais importante que defender princípios, e conservar a vida fosse mais meritório do que imolar-se por uma causa, seria verossímil acreditar que o primeiro pecador da era cristã foi o próprio Cristo. Afinal, podendo evitar o suplício e a morte que estavam por vir, desde que desdissesse tudo que havia pregado até então, Jesus não hesitou em encarar o flagelo e a crucificação, em nome do que entendia ser sua missão. Portanto, se sacrificar o corpo e/ou a vida fosse pecado, a história da Igreja seria uma falácia, assentada no exemplo de milhares de santos mártires, que na verdade seriam meros pecadores.
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