O Natal de Jesus nos coloca perante dois mistérios: o mistério do Verbo que se fez carne e o mistério da vida humana. "No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus", ensina João no início de seu evangelho. E, mais adiante, proclama: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós". É Lucas, no entanto, quem esclarece, através de belíssimo hino de louvor a Maria, a forma como isso se deu. Percebe-se ali que o "Sim" de Maria desencadeia um processo divino e humano. De um lado, a gravidez normal, até "se completarem os dias em que devia dar à luz"; de outro, a gravidez da Salvação, da qual a humanidade toda se faz ventre e herdeira. A narrativa de Lucas informa que Maria, logo após a Anunciação, "pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá" (Lc 1,39), onde morava Isabel, para verificar aquela inusitada e também misteriosa gravidez da prima idosa e estéril. Portanto, quando ambas se encontram, a saudação da prima - "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre", seguida de "Donde me vem esta honra de ter comigo a mãe do meu Senhor?" (Lc 1, 42-43) - se faz perante uma jovem grávida há poucos dias. A festa do Natal celebra o nascimento daquele minúsculo ser, daquele divino embrião, diante do qual Isabel reconheceu o Salvador, proclamando a oração que se repete através dos séculos. Verdadeiro Deus, Ele poderia ter vindo ao mundo de qualquer jeito; poderia ter evitado o parto, os desconfortos das fraldas e os mal-estares do crescimento. Mas, verdadeiro homem, preferiu cumprir todas as etapas da vida humana. Por mais que alguns cérebros se fechem à ciência, aos fatos e ao espírito, por mais que alguns obstetras legislativos atentem contra úteros grávidos, é humana a vida na qual pretendem espetar suas agulhas de tricô jurídicas. O fruto do ventre de Maria, reconhecido e louvado por Isabel, não era um aglomerado de células. Era o mesmo Jesus cujo nascimento festejaremos depois de amanhã. Quem aprende com a eternidade aprende para a eternidade. Aprende lições que o tempo não desgasta nem consome, lições para a felicidade e para o bem. Por isso, a maior e melhor novidade do ano que se avizinha será sempre a Boa Nova, que infatigavelmente põe em marcha a História da Salvação. Ela inclui o Presépio, mas vai muito além dele porque o Menino Jesus é o mesmo Jesus do Sermão da Montanha, da cruz e da Ressurreição! Assim como a festa do nosso aniversário nos remete quase inevitavelmente a uma reflexão sobre a nossa vida, e não sobre nosso parto ou o berçário onde fomos acolhidos, o Natal deveria erguer nosso pensamento aos horizontes mais amplos e generosos da vida e da vida eterna. Feliz Natal! Nota do Editor: Percival Puggina (www.puggina.org) é arquiteto e da Presidente Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública. Conferencista muito solicitado, profere dezenas de palestras por ano em todo o país sobre temas sociais, políticos e religiosos. Escreve semanalmente artigos de opinião para mais de uma centena de jornais do Rio Grande do Sul.
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