Mortes em operação policial, como a do menor suspeito de Bauru (SP), infelizmente ocorrem, em todo o país, com mais freqüência que se imagina. No caso, a divulgação eficiente, atraiu parlamentares, os direitos humanos e até o governador, - comandante-em-chefe da polícia paulista -, que decidiu antecipar-se no pagamento da indenização à família. Outros fatos passam despercebidos, mas merecem sérias providências e reflexão social. Quando exorbita, o policial é punido; essa é a regra. Mas será só ele o culpado? O Estado-empregador tem-lhe dado boas condições de trabalho e vida? Seu equipamento é compatível com a missão? Seu salário é suficiente? Ele recebe periodicamente os cuidados de saúde próprios aos profissionais em atividade de alto risco? Sem ignorar a exorbitância, a sociedade deve lembrar que o policial trabalha na linha imaginária entre o bem e o mal, em contato permanente com o perigo e o crime. Sem cuidados de saúde e vida relativamente tranqüila, acaba emocionalmente transformado em perigosa bomba prestes a explodir ou implodir. Não podemos ver só os excessos e ignorar seus problemas, que dão causa, inclusive, aos freqüentes suicídios em quartéis e distritos policiais! O Estado precisa atentar para as injunções que baixam a auto-estima e adoecem seu policial, gerando esses lamentáveis acontecimentos. O atendimento psicológico, quando ocorre, chega a parecer castigo. O salário não teve as correções no devido tempo, obrigando o servidor a fazer o maldito bico para poder pagar suas contas. Com salário baixo, sem condução própria para sua segurança, ele usa o mesmo transporte daqueles que seu trabalho obriga reprimir. É obrigado a morar na periferia (até na favela), onde, se declinar sua condição de policial, corre o risco de represálias. O rígido regime disciplinar das polícias, na dúvida, demite para evitar a possibilidade de manter um faltoso no seio da corporação. O governo mau-patrão maltrata a classe e ainda se dá ao luxo de usar sofismas para dizer que age certo. A distorção infelicita, desanima e repercute na qualidade do serviço prestado à população. O ponto nevrálgico da tarefa policial é a tensa abordagem a suspeitos, que não pode ser arbitrária nem ilegal, mas exige muita concentração, determinação e energia. Se o policial está apático ou emocionalmente alterado, sua ação torna-se inadequada e ele pode morrer ou matar. Só punição não basta. O policial carece de respeito e jamais ser preterido em seus legítimos direitos. O governo e a sociedade também têm de cumprir sua parte nesta delicada tarefa. Do contrário, o caos torna-se inevitável... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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