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Opinião
29/12/2007 - 05h36
Blindagem de lata
Dimas de Melo Pimenta II
 

A crise hipotecária dos Estados Unidos, não bastasse o estrago que está fazendo nos mercados internacionais, suscita amarga desilusão (mais uma...) para os setores produtivos brasileiros. Trata-se da constatação de que a política governamental de compras de títulos de nossa dívida externa e formação de grande reserva cambial não tem sido tão eficaz quanto apregoava sua promessa de reduzir a vulnerabilidade às crises financeiras mundiais. Pelo menos é o que se pode aferir do noticiário relativo aos riscos aos quais continua exposta nossa economia.

Não há quaisquer dúvidas quanto à pertinência de se manter uma adequada reserva cambial e tampouco quanto à importância de se equacionar o endividamento externo e o controle da inflação. No entanto, é preciso avaliar se foram corretamente dimensionados o volume de dinheiro destinado a essa finalidade, o timing desse fabuloso aporte de recursos e a gestão correta do processo na sua combinação com a flutuação da taxa de câmbio. Hoje, nossa taxa cambial é uma das mais desfavoráveis ao comércio exterior, em todo o universo das nações emergentes ou em desenvolvimento. Em relação ao dólar norte-americano, muito provavelmente o Real foi o ativo financeiro com a maior valorização, em todo o Planeta, nos últimos dois anos.

E cá estamos nós, como todos os emergentes, expostos aos riscos efetivos da crise do mercado hipotecário dos Estados Unidos, agravados pelo alerta do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, de que o dólar está sobrevalorizado e precisa se depreciar ainda mais. Acontece que essa depreciação partirá, no Brasil, de um patamar já insustentável em termos de competitividade internacional, enquanto para russos, chineses, hindus, chilenos, argentinos e outros emergentes, o referencial presente é muito mais favorável. Com certeza, o País está errando muito em sua política cambial, principalmente comparando-se com as estratégias das economias com as quais compete no mercado global.

As conseqüências desse equívoco podem ser medidas em números atualíssimos: estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) constatou que, somente em 2006, o Brasil perdeu para a China mais de US$ 1 bilhão em exportações aos Estados Unidos. O pior, acentua o relatório, é que, mantido o ritmo de avanço dos chineses sobre os mercados tradicionais brasileiros, em dez anos deixaremos de exportar o equivalente a quase a metade de nossas vendas para os norte-americanos, que somaram US$ 26,17 bilhões no ano passado.

Relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi) mostrou que o saldo da balança comercial brasileira em outubro foi de US$ 3,4 bilhões, fazendo com que o superávit acumulado do ano chegasse a US$ 34,4 bilhões. Isto significa valor 9,7% menor do que o resultado obtido no mesmo período de 2006. O estudo alerta, ainda, que "não são todos os setores que obtêm reajustes de preços como os registrados pelas commodities. Por isto, existem situações graves de perda de competitividade decorrente da valorização cambial, afetando negativamente diversos setores, dentre eles, destacadamente, os segmentos de maior grau de industrialização". O Iedi também observa que, para 2008, fontes de credibilidade, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), projetam queda dos preços de commodities em decorrência da desaceleração de crescimento da economia internacional.

Como se vê, os recordes das exportações e do superávit da balança comercial, sempre sujeitos a variáveis muito sensíveis, são explorados de modo ufanista pela comunicação do governo brasileiro, embora resultem da conjuntura favorável do mercado mundial e ao ingresso de capital especulativo interessado na remuneração propiciada pelas altas taxas de juros de nosso país. Porém, já não é possível disfarçar os prejuízos causados pela equivocada política de câmbio. Em síntese, o Brasil fez uma blindagem de lata contra crashes financeiros, com efeito colateral danoso para nosso comércio externo.


Nota do Editor: Dimas de Melo Pimenta II, economista, é presidente da Dimep e diretor do Departamento Sindical (Desin) da Fiesp.

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