O fantasioso resgate dos três reféns que a guerrilha colombiana promete libertar é o ponto de atenção de todo o mundo nesse fim e início de ano, e merece séria reflexão quanto à possibilidade de um desdobramento catastrófico. Os guerrilheiros precisam da certeza de não serem capturados durante ou após a entrega dos cativos, e provavelmente, não o serão, porque ainda mantêm em seu poder outros reféns de preciosa e estratégica importância. O presidente Hugo Chávez, da Venezuela, que promove todo esse temerário circo, capitaliza a ação como desagravo dos guerrilheiros frente ao governo colombiano, que desautorizou a interlocução Chávez-guerrilha. O pirotécnico acontecimento, que pode ter final dramático e imprevisível e estender-se por outros capítulos, atraiu o ex-presidente argentino Nestor Kirchner, a Cruz Vermelha Internacional e representantes do Brasil, Bolívia, Cuba, Equador, França e Suíça. Estranhamente, as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), não exigiram nada em troca da libertação dos primeiros reféns. Podem estar abrindo o caminho para negócios maiores, que levem à selva ainda mais figurões. Chávez faz o marketing dos guerrilheiros e o colombiano Álvaro Uribe promete combatê-los. E todo o resto, inclusive o representante brasileiro, está lá de observador ou, "bucha de canhão". Ninguém é capaz de garantir que, se sair algo errado, não sejam todos transformados em valiosos reféns, criando-se um formidável incidente internacional. Os guerrilheiros hoje sabem que estão cercados e que a garantia de suas vidas está nos reféns importantes mantidos em cativeiro, principalmente a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, de nacionalidade colombiano-francesa. Devem estar cientes que, ao libertarem as figuras influentes, poderão ser caçados e dizimados pelas forças legalistas. Logo, até por uma questão de sobrevivência, os representantes internacionais, não podem cochilar. Pela importância do cidadão ou do país que representa, e pelo temor dos guerrilheiros, todos poderão acabar como reféns e valiosa moeda de troca para avalizar uma anistia ampla, geral e irrestrita a todos os guerrilheiros, com direito a indenizações, pensões, asilos políticos elegantes e outras mordomias já conhecidas em alguns países do continente. A política do presidente Lula em relação aos países vizinhos produz interrogações ideológicas que turvam a sua imagem. Embarcar na aventura de Chávez é, no mínimo, temerário. Resta-nos, como consolo, ver a Argentina mais atolada que o Brasil na expedição à selva colombiana. Mas isso não atende os interesses brasileiros nem dá melhor imagem ao governo. Vamos torcer para que Lula não resolva comparecer pessoalmente à eventual seqüência desse indigesto convescote. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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