Contos da Mula Manca
Eu tenho uma amiga querida, muito engraçada e bem-humorada, que outro dia chegou à conclusão que existem quatro tipos básicos de pessoas na humanidade. Segundo o IBGE político-social de minha amiga, o primeiro tipo, o mais nobre, é o rico revolucionário. Rico porque rico é lindo. E o fato de ser revolucionário, ainda que de esquerda festiva, de araque ou qualquer coisa que o valha, pouco importa – mostra que o elemento tem alma romântica e alguma preocupação, algum sentimento além de dinheiro, o que sempre ajuda. Nessa escala decrescente o segundo lugar é ocupado pelo pobre revolucionário. Pobre é problema, segundo minha amiga, que evita o tipo, pois costuma dizer que “transou com pobre, vai pagar o motel”. Mas sendo revolucionário, é inconformado, quer mudar as coisas etc., o que já demonstra caráter, nem tudo está perdido. Caindo um pouco mais na escala vem o rico reacionário. Ele gosta do lugar de honra que recebeu na vida, seja por herança, trabalho, corrupção ou qualquer outra fonte de renda e, se está bom, por que mudar? Pelo menos faz sentido, na escala de valores da debochada. Em último, no fim da linha, vem o pobre reacionário. Pobre já é o fim do mundo, mas achar isso lindo, que o mundo é feito assim, que é bacana, que não vale a pena mudar, demonstra um “comportamento de capacho que não merece nem o esforço de atravessar a rua para cuspir em cima”, segundo o texto da elementa. E, o que é pior, ela acha que esse é a grande base da pirâmide humana, “é o que mais tem”. Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra. É autora do livro “Os florais perversos de Madame de Sade” (Editora Rocco).
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