Lula, na tevê, estava faceiro como guri de bodoque novo. PIB crescendo, emprego em alta, real firme, risco país em queda, balança comercial bem comportada, elevadíssimo índice de aprovação ao governo e a si mesmo. Há muitos anos o país não vislumbrava um horizonte econômico tão positivo. Mesmo com a desaprovação da CPMF, e anunciando conseqüências negativas para a saúde pública, o presidente exibia uma alegria que me fez recordar do Bill Gates. Lembram? Certa feita ele também perdeu, num dia, 40 bilhões. E continuou feliz da vida. Como se explica o que está acontecendo? Como pode dar tudo tão certo para alguém cuja credibilidade esbarra nos critérios mais rudimentares? São três as razões. A primeira diz respeito ao conjunto de providências que foram adotadas pelos seus antecessores: abertura ao comércio internacional, estímulo às exportações, apoio ao agronegócio, Plano Real, privatizações, manutenção de um consistente superávit primário, respeito aos contratos, pagamento da dívida externa e bom gerenciamento da moeda. Estas medidas foram proporcionando condições para a colheita de resultados que se expressa no sorriso do presidente. A segunda diz respeito à metamorfose de que Lula se jacta. Todas essas providências - todas, sem exceção - foram tomadas por seus antecessores, sob feroz oposição dele e de seu partido. Era tudo coisa da famigerada “lógica do mercado”, do amaldiçoado “receituário neoliberal e globalizante”, do FMI, do Consenso de Washington e do raio que o parta. A terceira se refere ao cenário internacional. A economia mundial vem crescendo a uma taxa firme, da ordem de 5%, há vários anos. Numa situação assim seria impossível ao país apresentar números negativos. Nem a África Subsahariana tem números negativos. É preciso, pois, analisar os dados com atenção para não incorrermos em injustiça, negando méritos a quem fez por merecê-los e para não atribuir méritos a quem deveria estar pedindo desculpas pelas besteiras que disse e pelo muito que atrapalhou. Fiz uma rápida consulta ao Google com as palavras-chave “Brasil cai no ranking” e, em instantes, fiquei sabendo que caímos para a 72ª posição no ranking da competitividade; perdemos seis posições no da tecnologia (52º lugar); perdemos pontos e posições no da corrupção (62º lugar); caímos no da liberdade de imprensa (84º), no da desigualdade entre homens e mulheres (74º), no dos negócios pela internet (43º), no dos exportadores (24º), no do preparo digital (38º), e perdemos uma posição no do IDH (70º). Estamos entre os piores na lista da educação! Dos 34 analisados somos o que menos gasta com ela e, por isso, ocupamos um dos últimos postos no ranking mundial de talentos. E por aí vai. Entrando no sexto ano do governo Lula percebe-se que melhoramos. Menos do que poderíamos, porque o mundo avançou bem mais, e porque o governo gasta mal. Somos como o paciente que estava em coma e agora pisca o olho uma vez para sim e duas para não. Melhorou, é claro, mas os pacientes do quarto ao lado, que estavam na mesma situação, já voltaram para o escritório. Nota do Editor: Percival Puggina (www.puggina.org) é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
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