Ao acordar, percebi que havia pássaros na janela. Não era normal... Esta hora deveriam estar nas portas das feiras, ciscando legumes e sementes jogadas nas calçadas. Ao levantar, senti que a casa estava vazia. Não havia nenhum recado, muito menos sinais que iriam voltar. Ao sair de casa, as ruas estavam desertas, era verão, mas o vento estava frio. Percebi então que o dia não estava normal. Tomei o ônibus, parti rumo ao trabalho. Chegando lá, descobri que não haveria expediente, que não havia ninguém para trabalhar. Sai em silêncio, parei em uma esquina à espera dos carros buzinando. Não havia trânsito, pessoas. Os prédios estavam abaixo, estátuas quebradas. Folhas e poeira pairavam ao vento. Não tinha porque voltar para casa. Resolvi partir e ir ao meu lugar preferido. Parei frente ao mar e havia um grande vale. Não havia mais água, os peixes estavam mortos e as gaivotas cabisbaixas em uma árvore seca, que antes era florida e cheia de vida. Abri a bolsa, peguei uma fotografia daquele lugar. Não havia mais cor nem brilho. Restou-me então procurar por alguém que pudesse falar-me o que havia acontecido. Mas ninguém podia ouvir-me, ficavam sem entender o que eu dizia. Não havia diálogo. Corri pelas ruas atordoado, sem saber para onde ir. Observei que pessoas se jogavam das pontes, os palácios e monumentos eram invadidos por estranhos. Gritos ecoavam pelas ruas da cidade. Resolvi parar, fechar os olhos, acalmar-me e olhar para o alto. O céu estava azul, com lindas nuvens, intocável. Havia tempo que não olhava para lá. Foi em um dia triste como este, amargo e sem cor, que descobri o lindo céu de minha vida. Nota do Editor: Rafael Coelho é acadêmico em jornalismo e presidente do portal www.palavriando.com.br.
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