Dizem que os fumantes são aproximadamente 30% da população, com viés de baixa. Novos adeptos ficarão por conta de jovens com problemas de auto-afirmação (excesso de hormônios e carência de neurônios), e filhos de fumantes, alguns dependentes desde o feto. No entanto, a fumaça dos cigarros continua "espaçosa". Por isso eu evito ir a barzinhos abertos, onde fumantes costumam acender um cigarro após o outro. Eu não entendia a razão dessa compulsão, até me explicarem que o álcool remove a nicotina do organismo e o cérebro, dependente, "pede" que ela seja reposta. Bem, evito barzinhos, mas vou a restaurantes, e muitas cidades têm leis que proíbem o fumo em áreas públicas fechadas. Ocorre que alguns proprietários as burlam criando áreas de fumantes e não-fumantes. É o caso de um dos restaurantes que eu freqüentava. Eu sempre pedia para ficar na área de não-fumantes o que, pela lei local, deveria ser a todo o ambiente, por ser fechado. Ao mencionar isso sempre recebi sorrisos amarelos, e às vezes precisei aguardar, pois não havia mesa disponível. Em compensação, era comum ver mesas livres na área de fumantes, bem maior, apesar de haverem poucos fumando: não mais do que os 30% estatísticos. Isso já era uma incoerência, mas o absurdo maior estava na inexistência de separação física entre as áreas. Certa vez, perguntei ao garçom como eles proibiam a fumaça de passar de um lado para o outro... Novo sorriso amarelo. Eu já havia observado que o dono era fumante, algo inadequado para quem atua nesse ramo; mas gostávamos do "filé à Daniel" de lá. Assim, retornávamos, eventualmente, torcendo para não sermos incomodados durante a refeição. Um dia, no entanto, notei que haviam mudado a decoração do restaurante: novos quadros haviam sido colocados nas paredes. Observei-os e percebi que onde estávamos - e só ali - três ou quatro telas, em seqüência, mostravam mulheres fumando. Resolvi brincar com o garçom: perguntei se ali não era área reservada para não-fumantes... Novo sorriso amarelo, mas desta vez com "tons" diferentes: ele disse que eu não era o primeiro a questionar sobre isso; que já haviam comentado sobre esse arranjo com o proprietário, mas que o autor quisera colocá-las juntas, ali mesmo. Pouco tempo depois veio a conta... Enquanto eu a verificava, o proprietário passou ao meu lado, com um cigarro acesso. Desta feita, conclui que o "filé à Daniel" - ou qualquer outro prato dali - não valia nem o preço, nem o desrespeito à lei, nem o incômodo, nem a ironia deselegante que o acompanhavam. Desde então, descobrimos melhores, ao ponto, em lugares onde aromas e paladares podem ser apreciados sem desconfortos. Mas leis e reclamações seriam desnecessárias se os fumantes, que param de fumar quando estão comendo, simplesmente respeitassem o direito dos 70%, inclusive crianças, que não fumam. É uma questão de civilidade, para não falar em higiene e saúde. Será que não dá para ficar duas horas sem fumar em recintos públicos fechados ou, simplesmente, sair cinco minutos para fazê-lo? Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro e professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA). Cursa Mestrado em Educação (UNISANTOS). E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
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