12/09/2025  21h53
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
COLUNISTA
Paula Tura
22/08/2004 - 16h47
Desburrocracia
 
 

Sair de São Paulo não foi tarefa fácil. Principalmente para alguém como eu, que achava que a pior parte seria deixar para trás os cinemas papo-cabeça, as divertidíssimas danceterias GLS e a galera cult. Mas a surpresa veio quando estava tudo arrumado dentro do carro e decidi averiguar se minha carta de motorista estaria a mão caso algum guarda pentelho resolvesse me parar.

Em não, não estava. Nem a carteira de motorista nem a de identidade estavam na minha carteira. E agora, onde é que estariam as duas me perguntei já na seqüência completando: como é que eu poderia saber uma vez que estão perdidas e quando perdemos as coisas é justamente porque não sabemos onde elas se encontram!!!???

Foi um tal de procura daqui; revira dali, tira tudo de dentro do carro e nada. Encontrei o título de eleitor, o cartão do CPF, o cartão da locadora, o ticket do lava-rápido, o cartão do banco, as justificativas das últimas eleições para presidente, o ticket gratuito para ver Picasso (que infelizmente não utilizei), o comprovante de pagamento do cartão de crédito e as camisinhas que em muito breve pretendo usar (cruze os dedos e faça figa pra ver se me ajuda) mas nada, nada de licença para conduzir ou para me identificar. Nada de documentos essências para se pegar uma estrada.

Solução encontrada: tirar segunda via, que a esta altura já deve ser a vigésima via que tiro nesta vida.

E, lá fui eu, para a fila do Detran.

- O que a senhora pretende fazer? - me perguntaram.

- Tirar a segunda via da CNH, respondi.

- Trouxe uma foto, o comprovante de endereço, o RG e o CPF?

- Sim, respondi. E lá fiquei sabendo que o meu sim significava um não.

Na minha vez, entreguei à atendente a xerox do RG, o documento do carro onde consta meu endereço, a foto e o CPF.

- Você não tem RG?

- Tinha mas perdi.

- Então não vale. Precisa tirar outro RG e voltar aqui. O seu comprovante de endereço também não é válido.

- Como não se foi entregue por vocês, através do correio, na minha casa?

- Você conhece a telefônica? Então, precisa ser uma conta de telefone ou água ou luz (!)5

- Minha senhora, eu nem moro mais neste endereço que estou lhe dando.

- Pois é, preciso deste comprovante de endereço e um boletim de ocorrência pois você foi roubada, não é!

- Não, eu não fui roubada nem furtada nem nada eu somente perdi os meus documentos.

- Então ta, você volta aqui com o seu RG original, o BO, o CPF original, a conta de telefone, a foto e aí paga uma taxinha no banco, espera por duas horas e pronto.

Desolada segui pra a fila da carteira de identidade. Era preciso a certidão de nascimento original e uma cópia. Dei meia volta e saí revoltada, indignada, abismada. Quando é que este país terá apenas um documento por cidadão??? Hein, hein, hein, será que alguém poderia me responder?

Por quê é que não existe um sistema informatizado com os dados de cada cidadão??????? Será que isto é tão absurdo assim? Seria o Sistema Nacional de Identificação onde constaria o seu número de identificação que lhe é dado quando você nasce e que você usa para:

- declarar o Imposto de Renda, quando crescer e tiver renda (torça para que você tenha uma);

- votar, a partir dos 16 anos, quando o voto deixar de ser obrigatório;

- para dirigir depois de ser aprovado no exame, sendo que as devidas habilitações podem vir em azul, verde, roxo, com a bandeira do seu time ou na sua cor predileta pois o que importa mesmo é que você tenha sido aprovado (vale também para aqueles que comprarem a carta).

Rebeldíssima peguei o metrô de volta pra casa e muito brava decidi encontrar os preciosos documentos perdidos. Comecei a tirar tudo do carro e nada até que abri o porta-malas e dei de cara com a minha mochila de estimação. A mochila verde. E foi no seu bolsinho externo que encontrei os documentos que fazem de mim uma não indigente.

Entrei no carro, abasteci, calibrei os pneus e peguei a estrada com a certeza de que pedir demissão de um emprego estável, em um organismo internacional, para ser apenas uma escritora é mil vezes mais fácil do que enfrentar a burocracia deste país.


Nota do Editor: Paula Tura é escritora, clown e em breve pintora. Mantém o blog: www.mercedesaemergente.blogspot.com.
PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
ÚLTIMAS DA COLUNA "PAULA TURA"Índice da coluna "Paula Tura"
09/09/2006 - 16h13 Ops!
06/09/2006 - 17h02 Destino
03/09/2006 - 06h50 Nossa Senhora das Solteiras Encalhadas
29/07/2006 - 07h07 A revolta dos sete anões
22/07/2006 - 18h17 Solução
21/07/2006 - 05h27 Sem sentido
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.