Quem pensar que o ex-ministro José Dirceu cometeu um engano ao revelar a construção da sede do PT de Porto Alegre com dinheiro do "Caixa 2", pode estar muito enganado. Com toda sua historia de ativista político nos anos 60, exilado político e super-ministro do governo petista, o experimentado Dirceu deve ter lá suas razões. E, com certeza, não ficam só no desejo de "dar o troco" em Tarso Genro, Olívio Dutra e outros partidários do sul que não o pouparam nas acusações que provocaram sua saída do ministério e a cassação do seu mandato de deputado. Como advogado militante, Dirceu não deve ignorar que a manutenção de "Caixas 2" é crime - que pode render de 2 a 5 anos de reclusão -, previsto na lei nº Lei 8.137/1990. Se decidiu "atirar", deve estar tentando atingir alguém importante, até mesmo o presidente Lula que, no dia 17 de julho de 2005, declarou ao Fantástico, da Rede Globo, que todos os partidos, inclusive o seu, utilizam-se do Caixa 2. Deixado ao vento da cassação, do processo judicial e da desonra política, pode ter o ex-ativista (que até fez plástica para viver clandestinamente no Brasil) tido uma recaída, e partido para intimidar aqueles que ainda possam ajudá-lo a resolver seus problemas pendentes. Se com o senador Renan Calheiros deu certo, porque com ele não daria? E ainda mais: depois do dito (à Revista Piauí, que circulou no dia 3), será muito difícil encontrar justificativa ou desmentido eficiente para apagar o fogo... O Brasil vive um período nunca antes visto de denúncias e/ou constatações de falcatruas. O mensalão (que derrubou Dirceu), o dólar na cueca, as malas de dinheiro e outros escândalos ainda estão fumegantes e já surge mais um. Pior é que a maioria desses casos acaba na impunidade, mal endêmico neste país. A fantasiosa oposição acena com uma nova CPI, mas esse instrumento é hoje desmoralizado porque o que mais fez foi acobertar parlamentares enrolados, como no recente caso dos "sanguessugas". O ideal seria o Ministério Público Federal, uma instituição séria e sem qualquer vínculo ou linha de subordinação ao governo, avocar as apurações, sejam quem forem os suspeitos. Os que tiverem foro previlegiado, que o utilizem, mas na certeza de que sempre haverá alguém fora de sua linha de influência e mando para acusá-los e julgá-los. O "Caixa 2" foi entendido por muito tempo como obra de empresários para pagar menos impostos. Mas hoje é muito pior, pois serve aos salteadores dos cofres públicos e aos lavadores de dinheiro sem origem ou de fonte criminosa. A cadeia é o lugar de todos eles... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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