A febre amarela que, no início do século passado, matou a filha do presidente Rodrigues Alves, notabilizou o sanitarista Oswaldo Cruz e rendeu até o Prêmio Nobel de Medicina ao pesquisador que desenvolveu sua vacina, volta a matar no Brasil, onde há 66 anos não ocorria em área urbana. Os casos registrados em Brasília, Goiás e Mato Grosso levam milhares de habitantes daquelas regiões às filas de vacinação. Mais um fantasma a assombrar o nosso país, que é a sexta economia do mundo, mas, por desleixo e falta de comprometimento dos governantes, trata o povo de forma igual ou pior do que qualquer republiqueta atrasada. A doença, endêmica na forma silvestre, não veio à cidade durante décadas porque, nos anos 30, mesmo com todas as dificuldades da época, o Brasil teve competência para eliminar o Aedes aegypt, seu mosquito transmissor. O inseto, no entanto, foi reintroduzido no território nacional nos anos 80, provavelmente dentro de pneus usados, importados para servir à indústria de recape e ao consumidor de baixa renda. Hoje é ameaça permanente, espalhado por 3.600 municípios (inclusive no Rio e São Paulo), e já fez muitos milhares de vítimas com a dengue, em sucessivas epidemias. A febre amarela poderá ser seu novo e letal ataque à população. Possuidor de respeitados centros de pesquisa científica e de economia que se destaca entre as nações, nosso país não poderia ser tão omisso e frágil no atendimento de saúde e social ao povo. O cidadão é a grande razão da existência do Estado e não pode, por pura incompetência, ser submetido aos maus-tratos hoje sofridos pelos brasileiros, especialmente os de média e baixa renda. Como pagador de impostos – todos, indistintamente, pagam – o cidadão não pode viver indefeso e exposto a moléstias que já haviam sido extintas há décadas, morrer sem atendimento na porta de hospitais e postos públicos de saúde, nem ficar trancafiado em casa porque o poder público não consegue lhe garantir um mínimo de segurança. O alastramento da dengue, da febre amarela e de dezenas de outros males físicos e sociais que escravizam o povo, denuncia a incompetência e a insensibilidade (dos nossos governantes), bem como a apatia daqueles que fazem da burocracia brasileira um verdadeiro escárnio, quando deveria ser apenas uma casta garantidora do funcionamento da sociedade, imune ao poder político e às suas transformações. Brasileiros, acordem e reajam antes que tenhamos de também voltar a conviver com a tuberculose, a lepra, a paralisia infantil e até mesmo o popular “nós nas tripas”. Assim como a dengue e a febre amarela, tudo isso faz parte de um passado historicamente recente que, para vergonha nacional, ainda pode voltar se os responsáveis pela saúde e promoção social continuarem na pasmaceira que hoje os embala. Precisamos de medidas urgentes, concretas, contínuas e responsáveis... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|