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Crônicas
17/01/2008 - 08h10
Canabis Sativa, a franga I
Tito Moreira
 

Canabis Sativa foi a sétima e última a nascer da ninhada de pintinhos. Todos seus irmãozinhos vieram ao mundo como os pais, desprovidos de penas ao longo dos pescoços. Mas, Canabis, não se sabe por que, não herdou essa característica familiar. Já crescidinha, exibia uma vasta quantidade de penas ruivas. Assim, passou a esnobar os outros membros da família quando as eriçava, com charme galináceo. Tornou-se uma franga de comportamento contrário aos seus iguais. Abandonou o ninho maternal e resolveu se alojar sozinha na churrasqueira abandonada. Desde então, os  sinais comportamentais estranhos aumentavam. Nunca se ouviu, por toda a chácara, um único cacarejo de Canabis. Sempre calada e egocêntrica.

A situação começou a ficar cada vez mais insólita com o passar do tempo. Tornou-se vegetariana por conta própria. Caminhava longas horas pela margem do riacho que cortava a propriedade em busca de alimento. Descobriu-se que Canabis tinha predileção por uma espécie de erva daninha, de nome desconhecido. Quando voltava desses passeios, não parecia ser a mesma franga, já com fama de estranha. Nessas ocasiões, comumente, assumia outras personalidades. Ela voltava transtornada. Ora exibia uma conduta, ora outra, para desespero dos demais animais que já não sabiam como tratá-la.

Certa vez, Canabis, num impulso descontrolado, atacou todos os animais domésticos do quintal: fez correr os cachorros; gatos procuraram refúgio nas árvores mais próximas; os patos disparam pra água, lá permanecendo, enquanto os coelhos fugiram saltitantes mata adentro. Suas primas, as galinhas d’angola, dizem que correram tanto, só parando no continente de origem. Foi uma correria sem igual.

E a franga passou a imperar solene no quintal. Orgulhosa, andava pé-ante-pé; asas abertas; crista ereta, assim como fazem as magricelas modelos nas passarelas. Como se não bastasse, Canabis tinha momentos de intensa gulodice, preferindo coisas doces. Esquecia a dieta de vegetais e devorava tudo  que encontrava pela frente, inclusive a ração dos porcos e cavalos... e não poupava as barras de sabão da lavanderia.

Quando chegou à época de namoro, esnobou todos os galos de briga local, aceitando o flerte do galo da propriedade vizinha. E pasmem! Pela primeira vez se tem registro de uma franga ativa, ou seja, o galo ficou por baixo. E nunca mais a procurou. Ela também não tinha instintos maternais, pois sempre que botava um ovo, o bicava até a total destruição. Nunca sequer um morador da chácara comeu um ovo de Canabis.

Em outra ocasião, depois do costumeiro passeio, deitou-se no meio do quintal, com o peito apontando pro céu, permanecendo  imóvel horas a fio com os olhinhos semi-cerrados, vidrados no azul celeste. Quando se levantou, iniciou uma escavação desatada com o bico, e enterrou a cabeça no buraco, sob os olhares incrédulos dos outros bichos.

Canabis foi se tornando uma lenda regional. Pra ouvir música sertaneja, as portas e janelas tinham, obrigatoriamente, de serem trancadas pra evitar os ataques de Canabis, visto que detestava esse estilo musical. Contrariada, lançava o corpo contra as paredes sistematicamente.

Houve uma longa temporada de seca queimando toda vegetação. Canabis caiu em depressão profunda. Passou a sofrer de transtorno bipolar. Tinha picos de aparente euforia e outros de intensa tristeza, talvez devido à abstinência de consumo da erva daninha.

Quando eufórica, corria de um canto a outro. Triste, corria também, mas em círculos. Nunca se soube de quem ou por quê. Mesmo porque, nenhum animal se atrevia a chegar perto dela. Felizmente, o estado emocional atual de Canabis Sativa está com os dias contados, pois a meteorologia indica pancadas de chuvas nos próximos dias.


Nota do Editor: Tito Moreira é jornalista.

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