A implantação de ciclovias é um sonho coletivo: para os motoristas isso significaria menos sobressaltos no trânsito; para os ciclistas, mais segurança e agilidade de deslocamento, embora alguns deles, com ou sem elas, continuem a praticar atos inseguros impunemente. Esforços para realizar esse sonho estão em curso, e ciclovias são empreendimentos de baixo custo, salvo quando implicam em alterações viárias, sobretudo em avenidas de cidades de maior densidade automotiva. No entanto, se um único acidente fatal for evitado esse investimento já terá valido! O problema é que, enquanto esse sonho não se realiza, alguns ciclistas continuam a sonhar com ele de um jeito meio perigoso, pois enquanto sua imaginação vagueia nas abstrações, não vêem o sinal vermelho; ou quem atravessa na faixa de pedestres, seja uma mãe com o bebê no colo, ou uma pessoa idosa; nem que não há espaço para manobras “radicais”, sem visão ou aviso, entre veículos em movimento... “Devaneios” desse tipo também podem ser observados quando dois ou mais ciclistas “sonham” juntos, pedalando lado a lado, distraída e lentamente, em vias principais. Dizem que acordar sonâmbulos abruptamente não é muito saudável, o que talvez explique porque alguns deles, quando despertados por um toque de buzina regular, reajam com um sinal com o dedo médio, nada oficial. Uns dizem que isso é uma forma de protestar contra a demora das autoridades em realizar seus sonhos; outros dizem que são irreverentes. Infração de trânsito virou irreverência? Nesse caso parece que sim, pois as maiores barbaridades são cometidas, e nada acontece, a não ser quando resultam em acidentes graves, quando elas são punidas com pena de morte, numa auto-sentença... Talvez esses ciclistas protestantes ou “irreverentes” creiam que as autoridades não enxergam suas reivindicações, o que se justifica, em parte, pela postura conivente ou impotente de responsáveis pelo trânsito. Os que tentam orientá-los se arriscam a serem ofendidos. Não é o caso de todos os ciclistas, a maioria cuidadosa; mas no caso dos infratores contumazes a impunidade só incentiva esses “usos e costumes”! Esse conflito entre motoristas e ciclistas (motociclistas, também), poderia ser resolvido com transporte coletivo “limpo”, eficiente e econômico. Quem sabe, assim, haveria menos automóveis nas ruas. Mas as montadoras querem vender mais; os governos querem arrecadar mais, com impostos, multas e taxas sobre veículos; os construtores dizem que o mercado quer apartamentos com três, quatro vagas... Aí, os governos, que aprovaram e lucraram com todo esse processo, resolvem implantar rodízios... As ciclovias estão aparecendo e os sonhos estão se realizando! Mas, e onde não há ciclovia? Os ciclistas continuarão a praticar “irreverências” impunemente? Sonhar é bom, desde que não vire um pesadelo pessoal ou coletivo. Também não se deve confundir irreverência com irresponsabilidade. Os motoristas e ciclistas podem - e devem - continuar a reivindicar ciclovias. Afinal, sonhos tendem a virar realidade, não é? Mas, aos adeptos ou dependentes do pedal pede-se apenas que, em nome da vida, parem e ponham os pés no chão, ao menos antes dos cruzamentos e faixas de retenção de semáforos fechados! Afinal, para sonhar e aproveitar do sonho realizado é preciso estar vivo e saudável! Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro e professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA). Cursa Mestrado em Educação (UNISANTOS). E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
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