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Crônicas
19/01/2008 - 07h50
A rosquinha da vizinha
Seu Pedro
 

Acostumado a não jantar, trazendo da padaria sempre um pão quentinho ao final da tarde, ele foi surpreendido por uma falta de energia. Achou incrível que tenha havido em sua cidade um apagão, medido a relógio, por quarenta horas e meia! Quase dois dias, e não é ficção, tendo acontecido de verdade em algumas cidades do Sertão da Bahia onde, em tempo de modernidade e eficiência, a Coelba teve que mandar buscar postes, cabos e parafusos em Salvador, tão despreparada está para atender emergências.

Mas Simplicio, simples com indica o nome, foi até a padaria e pediu seu rotineiro pão quentinho, da fornada das dezoito horas. Foi informado que não havia o produto, devido à falta de energia elétrica. E o pior foi ter sido avisado que, ante a emergência, todas as demais massas haviam sido levadas por fregueses afoitos em não deixar faltar algo para tomar com o café, com luz acesa ou apagada. E foi para casa triste, sem nada na mão!

Sua amada, mãe dos seus filhos, imaginou algo naquela prometida noite de escuridão. Colocou as crianças para dormir mais cedo, já que as novelinhas da televisão não poderiam atrapalhar em nada sua noite! Vestiu sua mais nova e provocante camisola. Ao lado da garrafa térmica, colocou um bolo de milho com rapadura, coberto por paçoca de amendoim. Tudo deveria dar certo!

O ambiente pronto e as crianças dormindo, ela ia e vinha pela sala. Arriscou, até, ir á porta da rua em traje de dormir, ou sonhar acordada. Que havia de mais? A rua estava escura e vazia. Já passara bastante da hora de Simplicio chegar, e ela sabia que não traria o pãozinho pela falta de energia. Mas quem sabe viria com outros apetites. Os minutos se passavam e maior era a ansiedade. Então, até que enfim, ele chega. Beijos normais e nem sequer percebeu o cenário armado: a cama de lençóis de linho e perfumados, no lugar daqueles de chita ou algodão.

"Amor, por que demorou?", perguntou a mulher com ar de dengo. Ele, com simplicidade única, explicou: "Não tinha luz, não tinha pão. Eu ia passando pela calçada e a vizinha me ofereceu a rosquinha dela. Como não tinha o pão, e estava com vontade, aceitei e comi a rosquinha dela". A mulher, como uma fera de camisola, esbravejou: "E chegou sem apetite?" E complementou: "Safado, vai comendo a rosquinha dela até o marido descobrir". Simplício até agora imagina como seu José, o marido da vizinha, vai reclamar por um punhado de massa feita com farinha de trigo, fermento e ovos em forma de rosquinha. E fritos em óleo de soja, à luz de vela!


Nota do Editor: Seu Pedro (Pedro Diedrichs) é escritor e "Jornalista do Sertão", 60 anos, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi / Bahia, cidade onde é voluntário da APAE e presidente do Conselho da Comunidade - CCG.

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