Diz a lenda que Steven Spielberg concebeu o filme ET como um libelo contra o preconceito. O fez tão bem que boa parte dos que o viram talvez não tenha reações preconceituosas caso encontre um alienígena pela rua. Mas, e quanto aos seres humanos? Continuará a discriminação pelos motivos de sempre: raça, etnia, religião, nacionalidade, classe social etc.? Infelizmente, o medo do próximo desconhecido e o choque cultural têm sido responsáveis por muitas das insanidades praticadas desde o início da Humanidade. Era compreensível, até a Idade Média, que as barreiras físicas (oceanos, cordilheiras, grandes distâncias e agressividade do meio-ambiente) condicionassem o isolamento entre culturas, comandadas por pequenas, mas poderosas, elites, que mantinham seus povos submissos, amedrontados pela ameaça física ou religiosa. Com lideranças baseadas na ignorância e doutrinação do povo desde a infância (acho que continuamos vendo esse filme...), era natural que o contato entre culturas diferentes gerasse conflitos, pois podia ameaçar a estabilidade do modelo de dominação existente numa ou noutra. Isso, junto com o mercantilismo, talvez explique a fúria genocida do colonialismo europeu da Idade Moderna, que dizimou ou escravizou os povos do Novo Mundo, considerados selvagens. Pois é... As religiões deveriam representar um meio de equilíbrio e tolerância entre os povos, mas algumas de suas lideranças parecem desconsiderar esse divino projeto. Mas, além das religiões, existem outras luzes que podem iluminar o caminho das relações interculturais: a diplomacia e as instituições de intercâmbio internacional de jovens, por exemplo. Os diplomatas são formados para essa prática, mas segundo os interesses dos governos. Já os jovens que participam de programas de intercâmbio tendem a ser muito mais naturalmente abertos à diversidade cultural, pois penetram no seio das sociedades e, assim, aprender a conviver. Digo isso por experiência própria, bolsista que fui. Mas nem todos têm acesso a essas possibilidades, e quem pode proporcioná-las nem sempre está interessado em fazê-lo, pois esse tipo de "liberalismo" pode ameaçar sua liderança. Preferem usar desse importante período da formação humana para alienar mentes e armar mãos, em nome do consumismo ou do fanatismo, pois a juventude é solo fértil para qualquer tipo de "cultura". Se os jovens de todo o mundo tivessem oportunidade de conviver de forma amigável com jovens de outras origens, talvez não houvesse tanto preconceito, xenofobia. Se um dia eles se tornarem líderes, essa experiência, com certeza, será fundamental, pois em vez de perpetuarem ódios do passado, serão instrumentos de uma nova ordem mundial, fraterna e pacífica. É claro que não é preciso viajar o mundo para superar preconceitos. A Internet tem sido um importante instrumento, nesse sentido. Aliás, tem gente que quanto mais viaja mais arrogante e insuportável fica... Não falo desse tipo de pessoas. Falo das realmente cosmopolitas, capazes de viver e compreender os princípios de democracia, espiritualidade e respeito ao próximo que o mundo precisa para concretizar a utopia da paz! Pena que as iniciativas de intercâmbio cultural dependam de decisões e ações dos que possam se sentir muito bem acomodados com a situação atual! Mas, "água mole em pedra dura...", ou melhor: "A fé remove montanhas"! Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro e professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA). Cursa Mestrado em Educação (UNISANTOS). E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
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