No agravo da hora mais tarda em que nem os grilos cricrilam, homens encapuzados, com pesados hábitos marrons, cruzam apressadamente pelo pátio onde despertam ervas de corrosiva resina. Há um silêncio de inconfidentes na trama do maior dos crimes, e o orvalho, que deveria acudir o desespero, conforta quem se insurge contra a matriz inaugural, sobretudo santa, pois que sofreu tudo pelos demais. Nem as sombras se movem no cenário do esconjuro e anjos porventura insones espiam por trás de cordilheiras o que logo derrotará sua candura. De fato, sem mais demora, os tais encapuzados rompem o lacre de documentos iniciais. A verdade, frágil, sem vigias, ganha uma versão comercial perante o que até os mais pios se persignarão crentes. E para sempre endividados de culpas. Nota do Editor: Daniel Santos é jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de O Estado de S. Paulo e da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro, além de O Globo. Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.
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