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Crônicas
24/01/2008 - 20h14
Aurelino, Bolinha, Gugu e um sonho
Seu Pedro
 

Ainda em data perto, em dezembro último, passei na praça iluminada pelo presépio e lá estavam um homem, de 63 anos; uma mulher, com 52, face triste e maltratada; um filho de 9 anos, raquítico; um neto, de 2 anos e meio, sem nada entender; uma cadela vira-lata, da qual não perguntei a idade, e um sonho antigo a ser realizado: ir ao programa do Gugu Liberato.

Aurelino tinha a esperança de sua vida mudar. Na qualidade de jornalista, fui procurado pelo homem, que se abrigava com a família em duas pequenas barracas de camping, isto em Guanambi, onde a família estava de passagem, rumo a São Paulo. Viajava a pé, de carona, boa-vontade e outros meios. Aqui, onde resido e edito o jornal Vanguarda, a família foi curiosidade de muitos moradores.

Visitei-a na praça. Aurelino apresentou-me a família e a cadela “Bolinha”. Falou-me de seu sonho, e editei pequeno artigo, pois jornal do interior sofre com custo e, por isto, também com a gestão de espaço em nossas páginas. O jornal circulou no dia seguinte com a notícia “Cadela ‘quer’ ser atração em um programa do Gugu”.

Mas, ao procurar na praça o seu Aurelino, para entregar-lhe o exemplar e algo mais, a caravana já havia seguido. Como falou no dia anterior, quando o fotografei, a família foi para o trevo e de lá, de carona, até a vizinha cidade mineira de Monte Azul. Nem deu tempo para que aqui, no Sertão, lhe déssemos uma ajuda para seguir. Só tive notícia deles.

Aurelino, obstinado para estar no Programa do Gugu, nem ouvia os conselhos sobre a sua intempestiva viagem. Eu mesmo procurei desestimulá-lo, como depois desestimulou o apresentador, para que outros que pensam neste tipo de aventura não a façam. É se arriscar muito naquela situação precária, por dois mil quilômetros, para chegar, sem garantias, em São Paulo, onde, atrás do sonho, está o desejo de fama, que até não poderia acontecer.

Disse eu ao homem sobre as ciladas das cidades grandes. Mas ele, inebriado pelo sonho de estar com sua “Bolinha” sob os holofotes da televisão, não ouvia as advertências. Gugu, que tantas pessoas traz de volta, de volta terá mais uma família a trazer. Aqui, no Sertão, no dia da entrevista, pensei até em levar o fato ao Conselho Tutelar, para pelo menos preservar as crianças de tão sacrificada jornada.

Se eu houvesse impedido a longa e precipitada viagem, talvez estivesse fazendo certo, mas daria outra direção a um sonho. Sabe-se que a vida, nas grandes metrópoles, na maioria das vezes, traz uma situação pior e desfavorável aos sertanejos, principalmente os que para elas vão sem ter antes uma certeza qualquer.

Uma família composta por um homem mais velho do que eu, uma mulher e duas crianças, sem recursos e nem parentes na Cidade da Garoa, dormindo nas calçadas, o que poderia acontecer? Deus os protegeu dos ladrões, que só lhes roubaram as duas barracas, preservando-lhes a vida. Deus os protegeu dos revoltados “filhinhos de papai”, que espancam e até incendeiam moradores de rua, e eles estavam naquela penosa condição!

Deus deu-lhes muito mais do que um sonho. Deu-lhes a oportunidade de realizar aquela vontade, através de uma jovem paulistana que, trabalhando em frente à calçada da Praça da Sé, os viu pela janela do coração. Aurelino, “Bolinha” e família estavam dormindo, em um dia de chuva, sob uma marquise. A jovem secretária entrou em contato com a produção do “Domingo Legal”. Foi atendida e contou a história, servindo de anjo interlocutor.

A equipe e o apresentador foram conferir em um sábado de chuva. No dia seguinte, domingo, sem necessidade de achar a nota premiada, a jovem recebeu uma placa de mérito, e foi vista por telespectadores de todo o Brasil. Isto neste dia 20 de janeiro.

E a família de Aurelino? Ficará uma semana hospedada em um hotel de luxo por conta do programa. A cadela vira-lata “Bolinha” foi para um hotel para animais, com atendimento de pedigree. No programa do dia 27, no domingo de Carnaval, a família terá uma surpresa: voltará de avião para a Bahia e de Salvador seguirá para a cidade de Santana, no Sudoeste Baiano. E as tradicionais empresas que patrocinam o “Domingo Legal” farão as doações rotineiras, em cheques e brindes, dando oportunidade de nova vida a Aurelino, e retorno aos costumes de “Bolinha”.

Mas foi um risco o que a família sonhadora passou. Perigo embaixo das marquises de São Paulo, o próprio Aurelino reconheceu isto. E que eles, com “Bolinha”, agradeçam a Deus e ao anjo que estava na Praça da Sé!

(Seu Pedro sonha ir com a esposa a Ponta Grossa, mas só se o xará prefeito, Pedro Wosgrau Filho, pagar as passagens. Os sanduíches populares ele paga com suas moedinhas).


Nota do Editor: Seu Pedro (Pedro Diedrichs) é escritor e ”Jornalista do Sertão”, 60 anos, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi / Bahia, cidade onde é voluntário da APAE e presidente do Conselho da Comunidade – CCG.

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