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Crônicas
26/01/2008 - 05h42
Os ditos mais idiotas de todos os tempos
André Falavigna
 

Alguns provérbios são, para longe de qualquer dúvida, manifestações de sabedoria, expressão da verdade, lembrete da voz da consciência. Outros, não passam de bobageira inofensiva. Os que não pertencerem ou ao primeiro, ou ao segundo grupo, pertencem àquele terceiro que é formado, em regra, por montes gigantescos e fedorentos de merda verbalizada. Curiosamente, este último é ao que com mais freqüência as pessoas recorrem quando desejam nos atirar vaticínios na cara, sobretudo naqueles momentos em que, antes de ouvir gracinhas mais destinadas a divertir quem as profere do que consolar quem as escuta, estaríamos mesmo necessitados de um bom conselho.

Experimente. Da próxima vez que o mundo estiver caindo sobre sua cabeça, preste atenção no que os que o cercam lhe dizem. Não tenho dúvidas de que não adianta chorar o leite derramado. Está aí uma assertiva que pode muito bem lembrar ao camarada recém-demitido, por exemplo, de que é melhor se concentrar em arrumar logo outro trabalho do que prostrar-se, lamentoso, pela perda do anterior. Ah, mas não. O normal é saírem-lhe com um "quem avisa, amigo é". Sim, claro. Como essa massa toda de desempregados ainda não havia pensado nisso? Ora, estamos resolvidos. Perdeu o emprego? Cortaram-lhe a luz? Entrou na fase de racionar alimento em casa? As crianças estão sem material escolar? Acabou o plano de saúde? E daí? Quem avisa, amigo é. Ahá! Xeque-mate.

Mas pode ser pior. De repente, a figura de Fábio de Lima, escritor colega do Literário e amigo que jamais vi pessoalmente, surgiu-me com clareza à mente. Vejam só: Fábio de Lima é um homem sensível, romântico, sincero e, com mil demônios, permite a todos que percebam todas essas suas qualidades (que as são no melhor sentido) assim, sem que precisemos sequer chegar a conhecê-lo ao vivo. Portanto, sinto-me obrigado a dizer que, dadas essas características, suponho que este meu amigo que nunca aparece deva se estrepar dia sim, dia não.

Tomemo-lo no dia sim.

Ele lá, acabrunhado, deprimido. Precisando de alguém que não se negue nem a ouvi-lo, nem a lhe desferir preciosos sopapos encorajadores. Alguém capaz de dizer a verdade: hei, fodeu, mas também não é o fim do mundo. A vida continua. Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima. Não, nessas horas não aparece nenhum Paulo Vanzolini. Em contrapartida surgirão, pontuais como o sol, todos os tipos de Benitos de Paula. Coisinhas assim: quem planta vento, colhe tempestade, compreende? Fogo morro acima, água morro abaixo e mulher quando quer dar, ninguém segura! A dor ensina a gemer, não é mesmo? Vejam só como as aparências enganam, meu Deus! Sorte de uns, azar de outros. Bom, pelo menos você pode tentar o jogo. E por aí, vai. Lamentável.

E tem mais. Já experimentou pedir dinheiro emprestado? Pedi muito, mas tenho atendido mais ainda. Não tenha dúvidas: é melhor estar em condições de oferecer do que de solicitar. Porque, quando você precisar de ajuda, não faltarão palpiteiros na orelha do seu benfeitor. E não vai ser para lembra-lhe que uma mão lava outra, ou que quem dá aos pobres empresta a Deus. Serão sempre alertas do tipo: Quem empresta, adeus. Nem contas com parentes, nem dívidas com ausentes. Quem avisa, amigo é. Quem planta vento, colhe tempestade! Essas duas servem para qualquer coisa.

Alguns desses exemplos sacados da sabedoria popular são pérolas de perversidade. O que não mata, engorda. Bobagem. Dá para, além de não matar, não engordar também. Destilados produzidos em garagem, com metanol, só produzem cegos, e cisticercos, na maioria das vezes, só nos convertem em retardados. A maior vingança é o desprezo. Tolice. Permanece sendo melhor pagar na mesma moeda, com juros e correção monetária, ou então enfiar bala na boca do safado. A tua inveja é a minha felicidade. Este é destinado a gente que vai morrer de úlcera antes do invejoso. Cu de bêbado não tem dono. A pessoa que diz uma coisa dessas é doente, perigosa e deve ser enjaulada. Não preciso nem explicar o porquê. Amor de pica é o que fica. De onde me saíram com tamanha grosseria? Além do mais, é bobagem de novo. Há amores muitíssimo estranhos por aí, ao passo que nunca nenhuma pica garantiu o que quer que fosse a quem quer que seja, exceção feita a John Holmes. Dor de cabeça, não conta.

A voz do povo é a voz de Deus. Intrinsecamente inviável. O povo quase sempre não concorda acerca de quase tudo. E, bem, a Criação não é algo que se possa enquadrar sob esses termos, não é mesmo? Isso de querê-la democrática é coisa de gente que não sabe que fomos feitos com dois narizes e a metade de bocas para ouvirmos em dobro toda cretinice que a gente mesmo diz. Felizmente, cada palavra que digo entra-me por um ouvido e sai-me pelo outro. Atitude que, aliás, estou certo de que muitos leitores deveriam ter tomado enquanto era tempo de não perder tempo com essa minha soberba demonstração de capacidade em não falar nada que preste. Afinal de contas, o tempo é o senhor da razão; donde, aliás, concluo que o senhor da razão seja o dinheiro e que, uma vez na mão (na minha, pelo menos) se converta em vendaval, coisa que obtive, certamente, plantando uma brisinha. Bom, pouco importa. Não digo mais nada. Vocês sabem o motivo.

Se conselho fosse bom a gente vendia, não dava de graça. Por outro lado, de graça, até injeção no olho. Principalmente se for uma injeção de pimenta e no olho dos outros, onde, dizem, a pilantrinha se converte em colírio tal qual fosse a imagem da Thaís Araújo, nua em pêlo e que, ora bolas, é um colírio para os olhos ainda que sejam eles um só e, à custa dele, nos tornemos reis em terra de cego, só que nus e com a mão no bolso repleto daquele tipo de vendaval que quando devidamente acrescido de saúde e canja de galinha, já não pode fazer mal seja a mim, seja lá a quem for.

Melhor parar por aqui.

Antes tarde, do que nunca.


Nota do Editor: André Falavigna é escritor, tendo publicado dezenas de contos e crônicas (sobretudo futebolísticas) na Web. Possui um blog pessoal, ofalavigna.blog.uol.com.br, no qual lança, periodicamente, capítulos de um romance. Colabora com diversas publicações eletrônicas.

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