Contos da Mula Manca
Todo mundo, menos eu, que por essas e outras sou conhecida como Mula Manca (MM) - devagar e teimosa - já tinha ido ver "Meu Nome não é Johnny". Resolvi correr atrás do prejuízo e não só gostei muito como fiquei impressionada com uma frase da Marguerite Yourcenar, um de meus autores favoritos de todos os tempos, que a juíza do caso manda para ele em um cartão de Natal. De cabeça, vai lá, é mais ou menos "o dia do nosso nascimento é aquele dia em que deitamos um olhar inteligente sobre nós mesmos". Saí do cinema lembrando uma conversa que tive há pouquíssimo tempo com uma amiga querida que, de tanto ser metida a esperta, de vez em quando até acaba acertando. Pois encontrei a moça meio jururu por causa de um final de romance, que ela classificou de uma tragédia: "Mais que o fim do caso, foi a forma de que foi feito. Eu perdi completamente a linha e a compostura, saí aos berros com o cara, foi uma coisa horrível". Eu fiquei espantadíssima. Minha amiga não é nenhuma santa, mas é o tipo de menina educada, eu diria que até meio travada, com um senso particular de humor que a salva de vários embaraços e constrangimentos. Sair destampando com um pretendente não é lá muito de seu feitio e ela concordou comigo: "Não quero entrar muito no mérito da questão, mas eu vivi um relacionamento muito complicado, que agora me dou conta, parece ter tirado a minha humanidade. É como se eu tivesse entrado em um esquema de deseducação sentimental, em que a agressão tomou conta de tudo. E sinto que esse comportamento acabou me pegando". Juro que quando ouvi isso me deu pena. Ponderei que tomar consciência do problema já é um tanto de caminho andado, ela concordou. E agora, fazer o que? Ela pareceu ter recobrado um pouco do juízo. "Olhe, MM, não queria ter ferrado a história assim, não era motivo nem teve desgaste para isso, pelo contrário, estava começando a ir bem. Eu preciso me reeducar e estou fazendo um esforço, tentei colocar um limite nas brigas sem sentido, fui completamente ignorada, depois pedi desculpas, fiz uma oferta de paz, não tive resposta. E se perdão foi feito pra gente pedir, amor não se mendiga". Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra. É autora do livro "Os florais perversos de Madame de Sade" (Editora Rocco).
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