Acabou-lhe o sono na madrugada e a Internet não funcionava, pois houvera um raio que caíra na região fazendo cair a conexão. Vestiu uma calça branca com uma camisa listrada e, imitando o poeta, saiu por aí. Procurou uma padaria aberta, que às quatro horas é difícil encontrar, principalmente em um sábado de carnaval. Optou, então, pelo ponto de táxi, onde sempre há uma garrafa térmica com chá. Faltariam, apenas, as torradas. Entre aquela meia-dúzia de profissionais, que namoravam o telefone, na esperança de alguém ligar solicitando o serviço, o assunto, como não poderia deixar de ser, era a mulata Alcione, que havia sido descoberta nos braços de um locutor. E a pergunta que girava era: será por amor? As opiniões se dividiam, com a fatia maior apostando no traiçoeiro, já que morena depilada, dizem que de corpo inteiro, era amante também do dinheiro. O assunto não o preocupava muito, uma vez que estava ali para passar o tempo e não para vasculhar a sujeira pessoal de alguém. Mas já que escutava, prestar atenção o fazia um curioso, coisa que qualquer um se torna sem sono na madrugada. E o assunto foi se apimentando. Mas o telefone toucou: - Alô! Era uma voz rouca que pedia valores para carro de aluguel que levasse um passageiro a um município vizinho. O motorista perguntou: "Cidade?" Não lhe responderam. E ele: "Alô, cidade?" Certamente seria um trote e o assunto retornou. Afinal, quem seria o tal locutor que Alcione, pela carteira, se apaixonou? Ficou no ar curiosidade, cada um dando o nome ao boi, ou melhor, ao amante da vaca. Havia três nomes na berlinda, entre a discussão acalorada, quando chega Manoel, catador de papel, e abre o verbo, dizendo o nome tão esperado. E telefone novamente tocou. E o motorista perguntava: Alô, cidade? Pela manhã de quinta-feira, rescaldo de carnaval, já todos esquecidos da madrugada do sábado de momo, ligam-se os rádios da cidade, todos para saber se Alcione, Andressa, Karina; Kátia e o jovem Lêu, todos do mesmo grupo de risco, haviam desfilado no bloco "Leva Vantagem" ou tinham ido para Lençóis? Nos programas policiais nenhum registro envolvendo estes nomes. Mas o programa menos ouvido da cidade deu conhecimento de um desconhecido, que era um tal de "Alô, Alô", querendo saber sobre os cheques sem-fundos. Afinal tudo é carnaval, tudo é fantasia! Nota do Editor: Seu Pedro (Pedro Diedrichs) é escritor e "Jornalista do Sertão", 60 anos, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi / Bahia, cidade onde é voluntário da APAE e presidente do Conselho da Comunidade - CCG.
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